terça-feira, 7 de abril de 2009

verso b



LITOGRAVURA

(Paulo Mendes Campos)


Eu voltava cansado como um rio.
No Sumaré altíssimo pulsava
a torre de tevê, tristonha, flava.
Não: voltava humilhado como um tio
bêbado chega à casa de um sobrinho.
Pela ravina, lento, lentamente,
Feria-se o luar, num desalinho
de prata sobre a Gávea de meus dias.
Os cães quedaram quietos bruscamente.
Foi no tempo dos bondes: vi um deles
raiar pelo Bar Vinte, borboleta
flamante, touro rútilo, cometa
que se atrasa no cosmo e desespera:
negra, na jaula em fuga, uma pantera.

Passei a mão nos olhos: suntuosa,
negra, na jaula em fuga, ia uma rosa.

2 comentários:

Mara faturi disse...

Belas imagens; bom quando o poema nos leva ao jardim;)
bjo

Grupo Cero VersoB disse...

Mara, bom que o poema nos leve ao jardim e, feito um cavalheiro da idade média (quiçá da idade média de cada um)nos ofereça uma rosa vermelha, que ele mesmo havia pintado,bom, também, que de vez em quando, ele retire alguns espinhozinhos dos nossos dedos de terra.

Adoro os teus comentários.

Verso B.