segunda-feira, 14 de junho de 2010

POESIA saindo do forno CERO

                                                    "hasta que te iguales a tí mismo"
                                                                            Walt Whitman

vai armar o céu, a tempestade
nem todos os livros me darão
               altura para colher-te
nem todos os lamentos das
               viúvas
nem todas as lágrimas das
               carpideiras
nem todos os encontros dos
               amantes
nem todas as vozes dos
               cantantes...
poderão abrasar
poderão acalmar
poderão apagar
                a chama
                       daquilo que
                            vem e não cessa...

Lúcia Bins Ely

domingo, 13 de junho de 2010

POESIA saindo do forno CERO

ATO 2
CENA ÚNICA

A TARDE SEM RELÓGIO
(continuação)


de onde vem a rosa
arrastando-se pelo parque

com sua tiara na mão?



o que é mais triste?

o peso das jóias as

rendas os vidros descalços

ou uma menina que

grita em sua boca ?



acalmem-se:



ela está cega

por uma dor que esquiva

com os pés de prato



sim a conhecemos



desceu de um trem

muito antigo

um trem que parava

nas mesmas e

mesmas e mesmas estações



sempre frias o

frio em todas as estações

sempre escuras o

escuro em todas as estações

todas as estações frias e escuras

frias e escuras

escuras e frias um

frio que não desemboca um

escuro que não desemboca que

não desemboca que não

Eliane Marques
(do livro inédito: A ROSA - uma tragedia quase brasileira)

terça-feira, 8 de junho de 2010

POESIA saindo do forno CERO

ATO 2

CENA ÚNICA

A TARDE SEM RELÓGIO

na tarde que nunca termina a

rosa desconhece damas

meias de seda

vestido de noiva e

vinho do porto



esquece ruínas

em seus modos de

dolores apaga e

expulsa rostos



ontem a rosa

fechou quatro

imensas portas



depois de um

incêndio qualquer

em sua boca



hoje sem rosto a

rosa descansa e

contra as paredes do poço

suas unhas são

vermelhas ausências

Eliane Marques
(do livro inédito: ROSA, uma tragédia quase brasileira.)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

AMOR PERDIDO. A JUVENTUDE


                            V


Salta, corre brincando até o amor e deixa-te cair,
sem respirar sequer, sem pensar no tempo; sem fé.
Caído, agita-te com doçura extrema, uiva.
Deixa que o tempo se persigne avergonhado,
enfrentado a tua dança vital, longitude insondável,
movimento de ave ou potro enlouquecido.

Deixa que a miseria te empape com seu olor a desgraça,
que a vida e as cores da vida te deixem cego.
E assim, sabendo, hás de morrer tranquilo,
sem dever à vida, nem a nenhum Deus estranho,
nem a espíritos modernos, nem à carne, nada.

Sem dívidas, alvoroçado pelo movimento dos astros,
abraçado a quanto amor se preze de se mover ou voar,
assim: sem nervosismos ou cálculos perfeitos,
assim, se morre e se volta a nascer, se é necessario,
cada vez, todos os dias, algumas noites, sempre.

MIGUEL OSCAR MENASSA
Poeta espanhol nascido na Argentina-1940
De “Amores perdidos” (1995)