quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

FESTIVAL MUNDIAL POESIA SEM FIM

Lúcia Bins Ely e Barbara Corsetti

Barreto

Maria Cristina Macedo
+ reciclador de lixo curtindo a poesia

Caoan Goulart e Leandro Oliveira

Anelore Schumann

Aconteceu em Porto Alegre um encontro de poetas
para a leitura de poemas ao ar livre,
inscrito no FESTIVAL MUNDIAL POESÍA SIN FIN,
com o nome
FESTIVAL POESIA SEM FIM
- de Cuba para o mundo -
O INFINITO NÃO É
IGUALMENTE INFINITO
EM TODAS AS PARTES

A poesia esteve presente no Parque Farroupilha e os passantes se aprochegavam para curtir a poesia universal.
Muitos poetas portoalegrenses se fizeram presentes e leram poemas seus e de grandes poetas.
Agradecemos à poeta Marcela Villavella que também esteve presente (embora estivesse em Buenos Aires)
nesta Festa da Poesia.
Foi tudo muito belo.
A realização foi do GRUPO CERO - psicanálise e poesia - com o apoio do Instituto Machado de Assis.
Música de Caoan Goulart - no clarinete - e Leandro Oliveira - ao violão.
Fotografias: Leonora Waihrich.
Agradecemos a todos,

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FESTIVAL POESIA SEM FIM em Porto Alegre

POETAS DO FUTURO
 
“A FIGUEIRA ERA O LUGAR DA SOMBRA.
FAZÍAMOS A VIDA, DIZENDO-NOS QUE ÉRAMOS FELIZES
METADE DO TEMPO SENTADOS À SOMBRA DA FIGUEIRA.”
(de Miguel Oscar Menassa)

Num sábado de sol, em torno a uma enorme e centenária figueira, no dia 18 de dezembro de 2010, como parte do FESTIVAL POESIA SEM FIM, o GRUPO CERO BRASIL e o INSTITUTO RECRIAR-CASA AMARELA, que desenvolvem o projeto POETAS DO FUTURO, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil), fizeram uma roda de poesia em homenagem ao poeta MIGUEL OSCAR MENASSA.
O “Poetas do Futuro” reúne crianças e adolescentes em torno da leitura e da escritura de poesia. Todos os seus integrantes vivem num lugar chamado Casa Amarela, que os abriga e lhes oferece melhores condições de vida, “para que en el mundo un niño se haga hombre”.
A roda começou como naquele poema do Lorca: às cinco horas da tarde.
O primeiro poema lido foi do livro YO PECADOR, do POETA homenageado.

EU PECADOR III
Amava as andorinhas.
porque aprendi delas a  voltar no verão.
No verão amava nas areias
a marca de teus pés.

Odiar
odiava somente o odor dos mortos.

Uma tarde mataram meu primo pelas costas
“Mão de ferro” o chamavam
Miguel, Miguel, meu bem amado e doce camarada.

Montavas a cavalo como o “Vaqueiro Solitário”
único e elegante
nas terríveis guerras do verão
me falavas de teu corpo
de teu corpo desnudo entre os cães
os cães lhe ladram à roupa, me dizias.

Desnudo um é mais um cão.
Deixar a casa do avô.
Esquecer do pátio e da figueira
não recordar jamais o gosto da menta
foi um golpe baixo da vida.

E vieram depois silenciosas mulheres
a violentar em minha lembrança o seu nome.
Veio depois tua morte traiçoeira.
Me contaram de tua cara extraviada de surpresa
porque esperar
- menos a morte –
havíamos esperado juntos qualquer coisa.
Logo entraram na roda alguns textos dos “Poetas do Futuro” (crianças e adolescentes entre 12 e 20 anos):
SEGREDO MORTO
Qual será nosso maior segredo?
Será aquele de que tenho medo?
Ou aquele do qual me arrependo?
Ele é um segredo íntimo,
Que não divido nem com meus primos.
Talvez esse segredo seja um mito
Do qual eu quero falar aos gritos
Escondo-o em meu corpo
Tento não manifestar no meu rosto
Mas ele ficará comigo até o meu último sopro
E assim será um segredo morto.
de Rafael Passos

SOMBRAS NA RUA
 Uma figueira no meio da rua
abaixo de uma lua,
uma rua e uma lua
e a figueira entre elas.
Na rua iluminada
os olhos de uma pessoa
refletem a lua
e os seus pés  pisam a rua.
E a figueira?
Continua ali, iluminada pela lua
a fazer sombra na pessoa
que pisa a rua.
de  Vinicius Guterres

CÃO FEROZ
Em uma casa diferente,
ao olhar para a frente, a Donna da casa  sai
de sua residência, e nota que há uma coisa errada
com seu mascote de estimação,
seu cão feroz e assustador acaba de matar um bebê:
o de sua vizinha favorita, a madame Madricur.
de Thiago da Silva     

A MÃO FECHADA DO OVO
A mão que faz a terra
quebra o ovo
o ovo é roubado
o cara que o rouba
frita um ovo
E COME!
“comida é água”.
de César Augusto Martins

BICICLETA ABANDONADA
Um dia eu vi uma bicicleta, sozinha, quase abandonada.
Mas ela estava para mim. Eu a peguei e saí com ela.
Só que não demorou muito e o
dono me encontrou e disse:
me dá aqui, se não eu vou queimar você em dois.
Tá bom, você venceu. Pegue e fique com deus.

de Fabiano Daniel Pereira

BOXEI A LUA
Era um guri que sonhava
viajar para a lua.
Então viajou para vários países
e vários estados e o mundo todo,
por que queria encontrar um FOGUETE.
Era um guri que só apanhava
Mas um dia ele disse:
Vou descarregar minha raiva
num ET, de repente ele é
mais fraco do que eu.
Então o guri lembrou que nos EUA
têm um FOGUETE e lá é um país rico.
Vamos lá!
Lua, aí vamos nós!
O ET vai apanhar tanto!!!!!
Mas quando o guri chegou lá não
havia ET nenhum.
E ele teve que boxear a lua.
de Israel Cunha  

JOSÉ
José onde você está?
- A festa acabou.

E agora onde você está?
- Estou na rua. Vou embora dormir
numa noite bela e escura.
Mas você dorme José?
 - Passo a noite olhando as estrelas
 e a lua, mas não há estrelas e lua.
E agora o que irá fazer?
 - Embora queira não posso
brincar com os cães, não há nenhum cão.
O que fará José?
 - Cem lua e cem cães.
de NÍcolas Gabriel Martins

SOMBRA
Onde eu vou, ela vai atrás.
Eu vou sair, ela vai atrás.
Eu vou ao hospital, ela está lá.
Eu vou para escola, ela está lá.
Qual é o nome dela?
Eu não sei dizer o nome dela.
Ainda não deu tempo para ela largar do meu pé.

DOM a SOMBRA.
de Douglas Moreira

PALAVRAS
Escrevo uma palavra
BIGODE
Depois dela escrevo a palavra
 LOIRO
e já tenho um BIGODE LOIRO
de Fabiano Escouto (Niño)
CORAÇÃO
Dizem que o coração
é vermelho,
mas o meu é de ouro.
Os dois são lindos e grandes
e rachados e lançados
por morte
de uma melodia.
Salvados de dentro e
desabados
e pesados.
O seu coração salvo
buscou outro
coração de ouro.

de Maicon de Paula

A RODA terminou com música popular brasileira.  Caoan da Costa Goulart e Matias Behrends Pinto (violão e cavaquinho) deram cordas à poesia.

O projeto Poetas do Futuro, por sua coordenação (Grupo Cero Brasil, poeta Eliane Marques), bem como o Instituto Recriar – Casa Amarela (por sua Presidência e coordenação, Gilmar Dal’Osto Rossa e Maria Cristina Gonçalves da Costa), agradecem ao FESTIVAL POESIA SEM FIM, por que a única maneira de viver é viver acompanhado.

Foto: Iria Boufleur

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

POESIAS INÉDITAS

               5

A partir de certo instante
só resta o tempo do abismo
com rosas ou sem rosas,
com molhes ou sem eles,
com outros rostos ou sem ninguém.

Não importa para onde miremos
ou falemos ou calemos.
O tempo do abismo tingirá
cada momento e cada coisa,
como um obliquo colorante
que não exclui nem sequer a ausencia.

O tempo do abismo
parece mais firme e seguro
que a não confirmada eternidade.


ROBERTO JUARROZ (Buenos Aires,1925 - 1995)

* Quadro: Las Alas del Tiempo de Miguel Oscar Menassa

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

POESIA SAINDO DO FORNO CERO


 CUESTA ABAJO

"Si arrastré por este mundo
la verguenza de haber sido
y el dolor de ya no ser."
           Gardel e Le Pera, 1934

Nos meus sonhos de criança,
Deputado ou senador,
Foi-se logo a esperança,
Restou uma profunda dor.

A vergonha do fracasso,
De um passado sem retorno,
No presente que faço?
Se só fiquei um estorvo.

São meses, anos de angustia,
Lembrando o que teria sido
E viver sem nostalgia

E agora no fim da vida,
Velho e amadurecido,
Resta a esperança perdida.

                                    Altayr Venzon


* Quadro: Fue Buenos Aires, Miguel Menassa

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

BLÁ-BLÁ-BLÁ: OS POETAS DO FUTURO com a poeta BARBARA CORSETTI


ACUPUNTURA
 
minha cor é local
faminta e no meio-fio
curto farpado circuito
o cartão postal de nossa derrota.
marquei hora com o tempo,
o sol move seus bispos e bilhetes
feito algo que acumula: acupuntura.
o mapa que me guia foi arrancado
minhas cicatrizes
cobram o condominio.
girando em si
o mundo é um coquetel molotov
feito agulha
copulando pele.
barbara corsetti

Barbara Corsetti é psicanalista e poeta do Grupo Cero Brasil.
Este foi um de seus poemas apresentado na atividade do Porto Poesia 4 chamada:
"Blá-blá-blá: os POETAS DO FUTURO com a Poeta Barbara Corsetti".

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

BLÁ-BLÁ-BLÁ: OS POETAS DO FUTURO com a poeta BARBARA CORSETTI



SEGREDO MORTO

Qual será nosso maior segredo?
Será aquele de que tenho medo?
Ou aquele do qual me arrependo?
Ele é um segredo íntimo,
Que não divido nem com meus primos.
Talvez esse segredo seja um mito
Do qual eu quero falar aos gritos
Escondo-o em meu corpo
Tento não manifestar no meu rosto
Mas ele ficará comigo até o meu último sopro
E assim será um segredo morto.

Rafael
Rafael faz parte do Grupo de Poesia da Casa Amarela Zero
(coordenado por Eliane Marques) que apresentou seus escritos
na atividade do Porto Poesia 4 chamada:
"Blá-blá-blá: os POETAS DO FUTURO com a Poeta Barbara Corsetti".

domingo, 5 de dezembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

Roberto Juarroz

Poema 55, quinta poesia vertical

Um amor mais além do amor
Por cima do rito do vínculo
Mais além do jogo sinistro
Da solidão e da companhia
Um amor que não necessite regresso
Porém tampouco partida
Um amor não submetido
Às chamas de ir e de voltar
De estar despertos ou dormidos
De chamar ou calar
Um amor para estar juntos
Ou para não estar

Porém também para todas as posições intermediarias
Um amor como abrir os olhos


Roberto Juarroz (Buenos Aires - 1925; 1995)
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

GERMÁN PARDO GARCÍA

CANTO À FORÇA SINDICAL


(continuação)


IV

ME induzem a penetrar nas oficinas em que obreiros tipógrafos
colocam grises sílabas em pranchas e molduras.
Aqui a força sindical logra crescente fragor de oceano

que move sem cessar as tubulares rotativas.

As ondas deste mar tipógrafo são páginas
de branquíssimo papel que inunda as metrópoles
e se retira semelhando às marés,
para volver a afogar as casas, as ruas, os estadios,
com a velocidade de suas cronologias.

Que preludio tão sublime o dos linotipos e das prensas!
Que ritmo tão dinâmico o das engraxadas engrenagens!
Quanta beleza nas ustorias lâmpadas e espelhos de aluminio
que distribuem equações de calor e seivas de súlfur!

Aqui as árvores são discos enormes rateados
e laboráveis folhas sua balsâmica madeira.
Se ouve correr os rios em cujas margens cheias de tórridos pássaros
crescem as plantas de onde flui a substantiva celulosa.
Todo diluvio aqui se escuta.
Todo furacão aqui distende-se.
O golpe das marretas que partem hexágonos graníticos,
repercute sob o aço destas abóbadas donde os relâmpagos tem menor velocidade que a noticia
Aqui a ordenadora força sindical é branca república
dirigida pelas fontes sinfônicas do homem.
E quando as janelas desta fábrica impressora se abrem ao sol e ao vento,
fogem os imortais livros como martins-pescadores
ou espumas separando-se dos nitrados promontorios.
Os livros imortais
que divulgam a virilidade dos proclamas e dos cantos de Píndaro.



(continuará)

Germán Pardo García (Colombia - 1902, México - 1991)
 *Quadro de Miguel Oscar Menassa (Catarata Marina)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

GERMÁN PARDO GARCÍA

CANTO À FORÇA SINDICAL
(continuação)

III

ESTES sensíveis bosques sociais dotados de justíssimas linguas
urgem à capacidade de meu coração álgido e só
para que entenda a amargura do salario miserável;
a aridez dos mineiros que tiram dos cárcamos
a escravidão dos petreos combustíveis;
a dessecação dos arroios pulmonares
pelo silicio e pela cal das pedreiras,
e a agonia dos lívidos punhos derrotados
pela inercia e pelos espectros
que atam a suas cinturas emblema falaz de campeões.

(Continuará)

Germán Pardo García (Colombia - 1902, México - 1991)
* Quadro de Miguel Oscar Menassa

terça-feira, 23 de novembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

GERMÁN PARDO GARCÍA

CANTO À FORÇA SINDICAL             

(continuação)

II

E vos digo em nome das inumeráveis alianças que existem
entre os braços do homem trabalhador e os sólidos seres:
vede as harmoniosas árvores se confederando
sobre o poderoso flanco do grande monte antibélico.


Elas são o primeiro símbolo desta força sindical de que vos falo,
contemplando-a desde seu nascimento na argila até sua elevação ao Cosmos,
porque também além as estrelas unem-se para impulsionar o Universo,
arvorado no mastro nuclear de lâmpadas tremendas
com seu fulgir de insetos nebúlicos de ouro.


Vos dou este humano exemplo das árvores porque são criaturas
que estão cada vez mais próximas ao espírito do homem.
Sua iminente incorporação a nossas almas a compreendemos
ao dizer: mais além da vida todos seremos árvores.


Ou ao exclamar: estou só como uma árvore diante da perda do crepúsculo.

Elas fundaram a inicial conciliação de vegetais
para defenderem com seu auxilio o proletario parvifundio.
Ao arbusto individual lhe cresceram outras árvores
e apareceu a fronde civil cheia de vozes e de ruídos,
como nas praças das cidades as multidões famélicas.


Comparo este murmurio das labiais folhas com acento de palavras,
porque elas são assim: dialogantes em seu idioma de verdes monossílabos.
Tem seu misterioso abecedario e conhecem a semântica do vento,
e em elásticos arames de raiz ou esferas úmidas e azuis
gravam fundas inframúsicas que nós não escutamos,
e as revivem ao decair a rápida traição da materia.


(continuará)

(Germán Pardo García - Colombia, 1902, México, 1991)
* Quadro de Miguel Oscar Menassa

sábado, 20 de novembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS



RELÁMPAGO CERO
 Miguel Oscar Menassa
  GERMÁN PARDO GARCÍA

CANTO À FORÇA SINDICAL

I

COMPANHEIROS de luta: este canto a vossa força sindical o principio
convocando desde o vermelho mais intenso de meu sangue à morte,
porque jamais sereis os construtores obreiros da vida
se ignorais como trabalham os profundos mecanismos da morte.

Assim começo este canto a vossa força sindical: desde baixo
como se enterrasse os obscuros cimentos de uma casa,
para induzi-la depois com lentidão até a altura de formosos corpos
carregados como todas as densas formas, de potencias elétricas.

Outros homens mais universais diriam este canto
com o nome do sol como insignia em suas bocas, do sol inesgotável
que satura intensamente vermes cosmogônicos
e atiça a rebelião das panteras.

Mas eu, imenso e brutal conhecedor de sombras demoníacas,
afianço-me ao escuro pó com tenacidade de nervos
e lanço este hino como ardente flor de pólvora
que desde o piso ascende à vertigem de tempestades térmicas.

(continuará)
Germán Pardo García (Colombia - 1902, México - 1991)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

Cesare Pavese
Vendrá la muerte y tendrá tus ojos

"
Vendrá la muerte y tendrá tus ojos
esta muerte que nos acompaña
desde el alba a la noche, insomne,
sorda, como un viejo remordimiento
o un absurdo defecto. Tus ojos
serán una palabra inútil,
un grito callado, un silencio.
Así los ves cada mañana
cuando sola te inclinas
ante el espejo. Oh, cara esperanza,
aquel día sabremos, también,
que eres la vida y eres la nada.

Para todos tiene la muerte una mirada.
Vendrá la muerte y tendrá tus ojos.
Será como dejar un vicio,
como ver en el espejo
asomar un rostro muerto,
como escuchar un labio ya cerrado.
Mudos, descenderemos al abismo.
"

(CESARE PAVESE - Italia - 1908/1950)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CONVITE:


O Editorial Grupo Cero e a autora
MARCELA VILLAVELLA
tem o prazer de convidá-los para a

SESSÃO DE AUTÓGRAFOS
do livro TE BUSCA Y TE NOMBRA

DIA: 06 de novembro
HORA: 20h30
LOCAL: Pavilhão de Autógrafos
da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre

sábado, 16 de outubro de 2010

Cadáver Esquisito produto da Oficina do Grupo Cero no Porto Poesia 4

Conhecer-te
faz-me sentir tão viva
entre vozes
no porto de Poesia

Minha morte anunciada
todos os dias
é Poesia transitoria!
Cabe sem amor
nesta canção

Estou aqui
serei eu?
minha alma voa
um poema rico em metáforas

Tudo é simples
se houver diálogo
a noite cai
e a palavra vem.

16.10.2010 - Cadáver Esquisito
Oficina de Poesia Grupo Cero
no Porto Poesia 4
(Coordenação: Lúcia Bins Ely)
Obs.: Cadáver Esquisito é um exercicio que os Surrealistas praticavam (e o Grupo Cero também pratica já que temos os Surrealistas como antecedentes) em que cada integrante do grupo escreve uma frase, ou verso, sem ler o que o outro escreveu, (passando a folha para que cada um escreva algo aí, dobrada sempre para que não se leia o já escrito) e, ao final se desdobra as dobras e se lê o escrito grupal. 
Se chama assim por ter sido Cadáver Esquisito o 1º verso do 1º poema produzido desta maneira.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

GRUPO CERO NA RADIO PAMPA

Hoje, a partir da meia-noite na Rádio Pampa AM (970kHz),          
no Programa Tribuna Popular com o apresentador: 
Altayr Venzon, estaremos conversando sobre psicanálise e poesia. 

Estaremos trazendo alguns fragmentos poéticos de textos de
Mario Vargas Llosa, premio Nobel de Literatura 2010.
A poesia dos grandes poetas nos tocará como só
a poesia faz, de maneira surpreendende e diferente
para cada um.

Com Lúcia Bins Ely (psicanalista e poeta do Grupo Cero)
e Eliane Marques (poeta do Grupo Cero e mestranda em direito e psicanálise).

"A escritura é o menos nosso que temos, é ela inteira, toda para o futuro."
Miguel Oscar Menassa

Tu podes interagir ao vivo ligando para a rádio!

E/ou na internet: www.radiopampa.com.br

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

NOVAS FOTOS DA APRESENTAÇÃO DE TE BUSCA Y TE NOMBRA

Marcela Villavella na Livraria Cultura


CASA DA PRAIA I   (continuação)

Te lembras do dia que caminhamos kms de areia?
Eram kms de palavras que tivemos que nos dizer para que o mar não fosse o único orador da tarde.
Sei que foi difícil esta conversa, fazia anos que caminhávamos em silencio e nesse dia voltamos a falar.
Caminhamos pela praia direção sul, com o sol nas costas para ir detrás de nossas sombras todo o trecho.
Tua sombra sempre foi menor que a minha.
Felicitações amigo! O tempo foi contigo mais benéfico.
Te lembras do que disseste ao nos despedirmos? "Que linda voz que tens... Me cantas um tango?"
E te cantei Volver, como se alguma vez nos tivéssemos separado.

Te abraço desde a janela mais próxima às ondas.

E te quero com este rugido.

M.

Marcela Villavella do livro: TE BUSCA Y TE NOMBRA (Editorial Grupo Cero - 2010).

MAIS FOTOS da Apresentação do TE BUSCA Y TE NOMBRA



Marcela Villavella e Lúcia Bins Ely
Marcela Villavella e Altayr Venzon
Anelore Schumann e a autora
Marcela Villavella e Renato Battistel

Maria Ineida Cervi e a autora



CASA DA PRAIA I  

Querido M.

Faz dias que quero te escrever.
Estou feliz. (Não queria dizer isso. Agora mesmo ao escrever volto a temer que essa frase me persiga toda a vida como um designio não cumprido).
Mas também devo ser valente, quente, indigente, gente contundente com essa felicidade que parece se perfilar.
Comprei a casa da praia. Sim.
Tem 3 dormitorios, dois banheiros, uma cozinha pequena mas ensolarada, uma grande sala para descansar.
Tudo com vista para o mar. Poderia ser de outra maneira?
Até o que tem vista para o bosque olha para o mar. Tenho os olhos cheios de mar e não se acalma em mim o furioso vai-e-vem da juventude.


(continuará)

de Marcela Villavella do livro: TE BUSCA Y TE NOMBRA (Editorial Grupo Cero, 2010)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Apresentação do livro TE BUSCA Y TE NOMBRA de Marcela Villavella neste 05 de outubro, na Livraria Cultura em Porto Alegre



Eliane Marques e Marcela Villavella


Eliane Marques, Marcela Villavella e Barbara Corsetti

Lúcia Bins Ely

Marcela Villavella


Caoan Goulart (clarinete) e Leandro Oliveira (violão)


Gurizada do Grupo de Poesia da Casa Amarela Zero
Fotos: Iria Boufleur


A POETA QUE LEVA UM PÁSSARO

 ANINHADO EM SUAS MÃOS.


Os poetas, em geral, têm apenas um problema.
E atenção, trata-se de um problema sério.
Um problema sério com a palavra amor:
Eles se queixam de forma constante:
ou amam demais,
ou amam de menos,
nunca na medida certa.
Mas nessas duas falas, atenção (ojo, como dizem os espanhóis)! Eles sempre fingem, sem nenhum tipo de vergonha, não ficam nem de bochechas coradas, ou com voz trêmula, ou com os olhos piscando. Sua posição é de se negarem a nos fornecer qualquer outro sinal, indicativo ou pista por onde possamos pegá-los em flagrante, com o dedo nessa invenção.
Se um alfaiate, bem alto, de terno preto e metro de cor amarela pudesse medir a palavra amor nos versos de um poeta e ainda que considerasse também o anverso, escreveria muito feliz no seu velho caderno de anotações:
amor dois pontos = palavra certa
observação - nada sobra nada falta
E para quê um alfaiate tiraria as medidas da palavra amor?
Talvez para vesti-lo com um projeto futuro de esperança, ou para vesti-lo com palavras vindouras, aquelas que ainda não foram pronunciadas, por que o amor é isso, diz a poeta Marcela Villavella, o amor é um nome que não se pode recordar, é um nome que virá, talvez, por isso para ela, o amor não seja certa palavra, mas a palavra certa em sua medida exata.  E nisso entre as  palavras que são de foca e de esponja marinha, sua poesia já trilha um caminho líquido, um caminho diferente.
E se acaso encontramos esse amor como um vagabundo ébrio na madrugada, como um desses humanos que vão por aí tropeçando entre os valos, personagens dos quais também nos fala o poeta brasileiro Cruz e Souza, se o encontramos numa dessas ruas ou num desses tetos onde bate o vento, ou dançando esse pensamento triste que é o tango, ele já será outro a se nomear.
Então a poeta de TE  BUSCA Y TE NOMBRA se põe propositadamente debaixo da chuva e espera, com as mãos abertas em forma de concha, que um pássaro muito, muito pequeno pouse nelas e ali faça seu ninho. Talvez esse pássaro seja um beija-flor (um colibri), ou outro, não sabemos, ela não nos entrega esse segredo. Mas pela maleabilidade de suas palavras supomos que seja um beija-flor abelha, esse bichinho delicado, que voa para frente e para trás e faz bruscas piruetas para se ver livre de algum perigo.
               Mas se não sabemos exatamente de que pássaro se trata,  sabemos do efeito do seu vôo nas mãos da poeta: ele lhe impõe que fale muito baixinho para não assustá-lo, que vá pelas ruas lentamente, passo a passo, para que ele não caia. E ainda, de vez em quando, ele impõe à poeta que colha um pouco do néctar de alguma rosa para o  alimentar.
Ambos vão assim, sob a chuva e com o sol às costas. Vão  mansamente falando de coisas que talvez ele - o pássaro - não quisesse nem saber – para que me falas desses assuntos, diria ele, que sei eu dos medos ou dos dedos marcados na minha cara ou dos 10 mandamentos que não se cumprem ou do hospital e desse morto aí na calçada cujo jornal no rosto lhe anuncia a morte.
A poeta pouco se importa com o blá blá blá do pássaro. Ela sabe que seu coração está em outro centro, seu coração late no centro da linguagem. E desse lugar ela escreve ao lado do amor outras palavras certas: vida e morte. Então, não são quaisquer palavras de que fala a poeta. E se falasse de outras palavras, seriam erradas? Não, por que o poeta sempre fala das palavras certas e não de certas palavras. Bem, talvez essa questão nem seja importante e talvez o certo e o errado sejam irrelevantes para essa que baixinho fala ao pássaro. Ela mesma diz: a verdade, às vezes, é bem pouco interessante. 
O problema é do pássaro, é ele quem exige essas palavras certas. Entre 100 papéis, 500 palavras, 4000 maneiras de dizê-las, 12000 tentativas de acalmar o clima e 1 milhão de gotas caindo na esquina, o pássaro exige essas palavras – vida e morte.
E por que ele faz esse pedido?
Simplesmente por que há um pranto dividido em dois: há uma dor de nascer e há uma dor de morrer – É um golpe de sorte voltar a amanhecer.  O começo é de água e o final também o é, diz a poeta. Sim, é um golpe de sorte voltar a amanhecer.  
Nesse caminho entre dois mares e com seu beija-flor vai com segurança, como se houvesse amado alguém (E será que não amou, será que não caminha entre gotas desse amor, será que ao cumprir o desejo desse a quem ela decidiu dar amor “a manos llenas” não ama?).
E cada vez a poeta se distancia mais desse mundo onde quase tudo é de plástico: ela se distancia do patinho inflável, do controle remoto da televisão, de um colarzinho muito bonito que algumas vezes a enfeita, do pote de queijo que utiliza no café da manhã, ela se distancia porque tudo é de plástico, menos esse pranto, esse mesmo que se divide em dois.  
Mas para o pássaro, não são de plástico as palavras da  poeta, por que são elas  que o retiram de um abandono quiçá,  sem piedade.
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul. Poeta e pássaro se encontram com Rimbaud para juntos porem em xeque a linguagem -  e o escrever não é vaidade ou poder é apenas poema.
Sim, mas o que importa um poema se não há mercado aberto para nenhuma mãe, nem bar para nenhum irmão, se não há nenhum filho bastardo para encher o berço, se não há nem pai legítimo que ponha comida na mesa, que importa se há colheres de sopa para nenhum comensal?
Que importa se existem agulhas cravadas em nossos sonhos e é penoso dizer “te amo” com uma voz estrangeira, que importa se a dor da guerra segue matando os filhos da guerra e fere, mesmo que à distancia, a dor de nascer entre os mortos?
A poeta diz tudo isso como se se tratasse de outra coisa, como se se tratasse de se ir ao bosque se querendo ir ao mar, e tudo  com uma delicadeza de vôo de beija-flor.
 Mas, assim como Eliot, ela anda por uma terra desolada, mas, sabemos, não vai sozinha. Para Eliot “Abril é o mais cruel dos meses, germinando lilases da terra morta, misturando memória e desejo, avivando agônicas raízes com a chuva da primavera”. Para Marcela Villavella nesta vida atada a algumas cartas onde o destino se sabe jogar e se perde, nesta tendência a viver demais, a beber demais de todos os copos de cicuta do mundo, nesse naipe que nos falta há um “Ás” de espada que nos olha, mas não nos mata. 
E com esse verso ela se autoriza a seguir por ruas de paredes herméticas e janelas intermináveis por onde também vão milhares de homens de sapatos recém lustrados, homens que levam um jornal debaixo dos braços e um livro no bolso, ruas por onde vão milhares de bonecas russas. E, no meio de tudo isso, não há olhos para ver o cavalinho de madeira feito caquinhos no quarto.
Todavia,  apenas a poeta vai pela chuva e com o pássaro entre as mãos. Estará perdida? Não, não está. Sentou-se numa mesa com sonhos, pesadelos e palavras e, ao seu lado, um menino agita uma bandeira – e, nesse momento, é o pássaro que lhe aponta o poema.
Fracassar se pode sempre, ela diz ao pássaro, e assim existem feridas que ela cuida para que se fechem e outras que mantém abertas para não se esquecer de quem foi. Ao mesmo tempo ela teme que a frase “estou feliz” a persiga por toda a vida como um desígnio não cumprido. Não nos enganemos,  ela é valente e segue e não abandona o pássaro. 
O poeta argentino Juan Gelman um dia disse de Paco Urondo, cuja morte se deu no enfrentando da ditadura Argentina, e a quem a Poeta dedica o poema “El Pajarito”: -corrigia muito seus poemas, soube porém que o único modo que o poeta tem de corrigir sua obra é ” corrigindo-se a si mesmo”, se reescrevendo, quer dizer, buscando os caminhos que vão do mistério da língua ao mistério da gente.
Bem, é isso que faz Marcela Villavella no livro “Te busca y te nombra”, entre as palavras já está entre as pessoas e as  ama com a verdade nas mãos.
Agora não há mais chuva, as nuvens sobem demasiado alto, demasiado longe, demasiado céu. Não há mais desculpas para aninhar o pássaro, mas a Poeta se recusa a deixá-lo, pois na busca que empreendeu    se encontrou nesse longo vôo, nesse longo bater de asas.      
A ele, ao pássaro, Marcela Villavella deve o poema. E ele, o pássaro, sabe da dívida impagável que tem com ela, por isso  é, ele mesmo, um verso.
Y todo termina con una esperanza, con una dilación
      –"ha estado bien"–, o en un bostezo, o en otro
      lugar donde es menester el coraje ( Paco Urondo) a coragem de, como poeta,  levar um pássaro entre as mãos.
                          Assim, se o tango é uma tristeza que se dança, a poesia de “Te busca e te nombra”  é uma dor que se escreve.

                          Obrigada, Marcela, por tuas mãos aninharem esse beija-flor.


Eliane Marques