segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CONVITE:


O Editorial Grupo Cero e a autora
MARCELA VILLAVELLA
tem o prazer de convidá-los para a

SESSÃO DE AUTÓGRAFOS
do livro TE BUSCA Y TE NOMBRA

DIA: 06 de novembro
HORA: 20h30
LOCAL: Pavilhão de Autógrafos
da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre

sábado, 16 de outubro de 2010

Cadáver Esquisito produto da Oficina do Grupo Cero no Porto Poesia 4

Conhecer-te
faz-me sentir tão viva
entre vozes
no porto de Poesia

Minha morte anunciada
todos os dias
é Poesia transitoria!
Cabe sem amor
nesta canção

Estou aqui
serei eu?
minha alma voa
um poema rico em metáforas

Tudo é simples
se houver diálogo
a noite cai
e a palavra vem.

16.10.2010 - Cadáver Esquisito
Oficina de Poesia Grupo Cero
no Porto Poesia 4
(Coordenação: Lúcia Bins Ely)
Obs.: Cadáver Esquisito é um exercicio que os Surrealistas praticavam (e o Grupo Cero também pratica já que temos os Surrealistas como antecedentes) em que cada integrante do grupo escreve uma frase, ou verso, sem ler o que o outro escreveu, (passando a folha para que cada um escreva algo aí, dobrada sempre para que não se leia o já escrito) e, ao final se desdobra as dobras e se lê o escrito grupal. 
Se chama assim por ter sido Cadáver Esquisito o 1º verso do 1º poema produzido desta maneira.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

GRUPO CERO NA RADIO PAMPA

Hoje, a partir da meia-noite na Rádio Pampa AM (970kHz),          
no Programa Tribuna Popular com o apresentador: 
Altayr Venzon, estaremos conversando sobre psicanálise e poesia. 

Estaremos trazendo alguns fragmentos poéticos de textos de
Mario Vargas Llosa, premio Nobel de Literatura 2010.
A poesia dos grandes poetas nos tocará como só
a poesia faz, de maneira surpreendende e diferente
para cada um.

Com Lúcia Bins Ely (psicanalista e poeta do Grupo Cero)
e Eliane Marques (poeta do Grupo Cero e mestranda em direito e psicanálise).

"A escritura é o menos nosso que temos, é ela inteira, toda para o futuro."
Miguel Oscar Menassa

Tu podes interagir ao vivo ligando para a rádio!

E/ou na internet: www.radiopampa.com.br

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

NOVAS FOTOS DA APRESENTAÇÃO DE TE BUSCA Y TE NOMBRA

Marcela Villavella na Livraria Cultura


CASA DA PRAIA I   (continuação)

Te lembras do dia que caminhamos kms de areia?
Eram kms de palavras que tivemos que nos dizer para que o mar não fosse o único orador da tarde.
Sei que foi difícil esta conversa, fazia anos que caminhávamos em silencio e nesse dia voltamos a falar.
Caminhamos pela praia direção sul, com o sol nas costas para ir detrás de nossas sombras todo o trecho.
Tua sombra sempre foi menor que a minha.
Felicitações amigo! O tempo foi contigo mais benéfico.
Te lembras do que disseste ao nos despedirmos? "Que linda voz que tens... Me cantas um tango?"
E te cantei Volver, como se alguma vez nos tivéssemos separado.

Te abraço desde a janela mais próxima às ondas.

E te quero com este rugido.

M.

Marcela Villavella do livro: TE BUSCA Y TE NOMBRA (Editorial Grupo Cero - 2010).

MAIS FOTOS da Apresentação do TE BUSCA Y TE NOMBRA



Marcela Villavella e Lúcia Bins Ely
Marcela Villavella e Altayr Venzon
Anelore Schumann e a autora
Marcela Villavella e Renato Battistel

Maria Ineida Cervi e a autora



CASA DA PRAIA I  

Querido M.

Faz dias que quero te escrever.
Estou feliz. (Não queria dizer isso. Agora mesmo ao escrever volto a temer que essa frase me persiga toda a vida como um designio não cumprido).
Mas também devo ser valente, quente, indigente, gente contundente com essa felicidade que parece se perfilar.
Comprei a casa da praia. Sim.
Tem 3 dormitorios, dois banheiros, uma cozinha pequena mas ensolarada, uma grande sala para descansar.
Tudo com vista para o mar. Poderia ser de outra maneira?
Até o que tem vista para o bosque olha para o mar. Tenho os olhos cheios de mar e não se acalma em mim o furioso vai-e-vem da juventude.


(continuará)

de Marcela Villavella do livro: TE BUSCA Y TE NOMBRA (Editorial Grupo Cero, 2010)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Apresentação do livro TE BUSCA Y TE NOMBRA de Marcela Villavella neste 05 de outubro, na Livraria Cultura em Porto Alegre



Eliane Marques e Marcela Villavella


Eliane Marques, Marcela Villavella e Barbara Corsetti

Lúcia Bins Ely

Marcela Villavella


Caoan Goulart (clarinete) e Leandro Oliveira (violão)


Gurizada do Grupo de Poesia da Casa Amarela Zero
Fotos: Iria Boufleur


A POETA QUE LEVA UM PÁSSARO

 ANINHADO EM SUAS MÃOS.


Os poetas, em geral, têm apenas um problema.
E atenção, trata-se de um problema sério.
Um problema sério com a palavra amor:
Eles se queixam de forma constante:
ou amam demais,
ou amam de menos,
nunca na medida certa.
Mas nessas duas falas, atenção (ojo, como dizem os espanhóis)! Eles sempre fingem, sem nenhum tipo de vergonha, não ficam nem de bochechas coradas, ou com voz trêmula, ou com os olhos piscando. Sua posição é de se negarem a nos fornecer qualquer outro sinal, indicativo ou pista por onde possamos pegá-los em flagrante, com o dedo nessa invenção.
Se um alfaiate, bem alto, de terno preto e metro de cor amarela pudesse medir a palavra amor nos versos de um poeta e ainda que considerasse também o anverso, escreveria muito feliz no seu velho caderno de anotações:
amor dois pontos = palavra certa
observação - nada sobra nada falta
E para quê um alfaiate tiraria as medidas da palavra amor?
Talvez para vesti-lo com um projeto futuro de esperança, ou para vesti-lo com palavras vindouras, aquelas que ainda não foram pronunciadas, por que o amor é isso, diz a poeta Marcela Villavella, o amor é um nome que não se pode recordar, é um nome que virá, talvez, por isso para ela, o amor não seja certa palavra, mas a palavra certa em sua medida exata.  E nisso entre as  palavras que são de foca e de esponja marinha, sua poesia já trilha um caminho líquido, um caminho diferente.
E se acaso encontramos esse amor como um vagabundo ébrio na madrugada, como um desses humanos que vão por aí tropeçando entre os valos, personagens dos quais também nos fala o poeta brasileiro Cruz e Souza, se o encontramos numa dessas ruas ou num desses tetos onde bate o vento, ou dançando esse pensamento triste que é o tango, ele já será outro a se nomear.
Então a poeta de TE  BUSCA Y TE NOMBRA se põe propositadamente debaixo da chuva e espera, com as mãos abertas em forma de concha, que um pássaro muito, muito pequeno pouse nelas e ali faça seu ninho. Talvez esse pássaro seja um beija-flor (um colibri), ou outro, não sabemos, ela não nos entrega esse segredo. Mas pela maleabilidade de suas palavras supomos que seja um beija-flor abelha, esse bichinho delicado, que voa para frente e para trás e faz bruscas piruetas para se ver livre de algum perigo.
               Mas se não sabemos exatamente de que pássaro se trata,  sabemos do efeito do seu vôo nas mãos da poeta: ele lhe impõe que fale muito baixinho para não assustá-lo, que vá pelas ruas lentamente, passo a passo, para que ele não caia. E ainda, de vez em quando, ele impõe à poeta que colha um pouco do néctar de alguma rosa para o  alimentar.
Ambos vão assim, sob a chuva e com o sol às costas. Vão  mansamente falando de coisas que talvez ele - o pássaro - não quisesse nem saber – para que me falas desses assuntos, diria ele, que sei eu dos medos ou dos dedos marcados na minha cara ou dos 10 mandamentos que não se cumprem ou do hospital e desse morto aí na calçada cujo jornal no rosto lhe anuncia a morte.
A poeta pouco se importa com o blá blá blá do pássaro. Ela sabe que seu coração está em outro centro, seu coração late no centro da linguagem. E desse lugar ela escreve ao lado do amor outras palavras certas: vida e morte. Então, não são quaisquer palavras de que fala a poeta. E se falasse de outras palavras, seriam erradas? Não, por que o poeta sempre fala das palavras certas e não de certas palavras. Bem, talvez essa questão nem seja importante e talvez o certo e o errado sejam irrelevantes para essa que baixinho fala ao pássaro. Ela mesma diz: a verdade, às vezes, é bem pouco interessante. 
O problema é do pássaro, é ele quem exige essas palavras certas. Entre 100 papéis, 500 palavras, 4000 maneiras de dizê-las, 12000 tentativas de acalmar o clima e 1 milhão de gotas caindo na esquina, o pássaro exige essas palavras – vida e morte.
E por que ele faz esse pedido?
Simplesmente por que há um pranto dividido em dois: há uma dor de nascer e há uma dor de morrer – É um golpe de sorte voltar a amanhecer.  O começo é de água e o final também o é, diz a poeta. Sim, é um golpe de sorte voltar a amanhecer.  
Nesse caminho entre dois mares e com seu beija-flor vai com segurança, como se houvesse amado alguém (E será que não amou, será que não caminha entre gotas desse amor, será que ao cumprir o desejo desse a quem ela decidiu dar amor “a manos llenas” não ama?).
E cada vez a poeta se distancia mais desse mundo onde quase tudo é de plástico: ela se distancia do patinho inflável, do controle remoto da televisão, de um colarzinho muito bonito que algumas vezes a enfeita, do pote de queijo que utiliza no café da manhã, ela se distancia porque tudo é de plástico, menos esse pranto, esse mesmo que se divide em dois.  
Mas para o pássaro, não são de plástico as palavras da  poeta, por que são elas  que o retiram de um abandono quiçá,  sem piedade.
A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul. Poeta e pássaro se encontram com Rimbaud para juntos porem em xeque a linguagem -  e o escrever não é vaidade ou poder é apenas poema.
Sim, mas o que importa um poema se não há mercado aberto para nenhuma mãe, nem bar para nenhum irmão, se não há nenhum filho bastardo para encher o berço, se não há nem pai legítimo que ponha comida na mesa, que importa se há colheres de sopa para nenhum comensal?
Que importa se existem agulhas cravadas em nossos sonhos e é penoso dizer “te amo” com uma voz estrangeira, que importa se a dor da guerra segue matando os filhos da guerra e fere, mesmo que à distancia, a dor de nascer entre os mortos?
A poeta diz tudo isso como se se tratasse de outra coisa, como se se tratasse de se ir ao bosque se querendo ir ao mar, e tudo  com uma delicadeza de vôo de beija-flor.
 Mas, assim como Eliot, ela anda por uma terra desolada, mas, sabemos, não vai sozinha. Para Eliot “Abril é o mais cruel dos meses, germinando lilases da terra morta, misturando memória e desejo, avivando agônicas raízes com a chuva da primavera”. Para Marcela Villavella nesta vida atada a algumas cartas onde o destino se sabe jogar e se perde, nesta tendência a viver demais, a beber demais de todos os copos de cicuta do mundo, nesse naipe que nos falta há um “Ás” de espada que nos olha, mas não nos mata. 
E com esse verso ela se autoriza a seguir por ruas de paredes herméticas e janelas intermináveis por onde também vão milhares de homens de sapatos recém lustrados, homens que levam um jornal debaixo dos braços e um livro no bolso, ruas por onde vão milhares de bonecas russas. E, no meio de tudo isso, não há olhos para ver o cavalinho de madeira feito caquinhos no quarto.
Todavia,  apenas a poeta vai pela chuva e com o pássaro entre as mãos. Estará perdida? Não, não está. Sentou-se numa mesa com sonhos, pesadelos e palavras e, ao seu lado, um menino agita uma bandeira – e, nesse momento, é o pássaro que lhe aponta o poema.
Fracassar se pode sempre, ela diz ao pássaro, e assim existem feridas que ela cuida para que se fechem e outras que mantém abertas para não se esquecer de quem foi. Ao mesmo tempo ela teme que a frase “estou feliz” a persiga por toda a vida como um desígnio não cumprido. Não nos enganemos,  ela é valente e segue e não abandona o pássaro. 
O poeta argentino Juan Gelman um dia disse de Paco Urondo, cuja morte se deu no enfrentando da ditadura Argentina, e a quem a Poeta dedica o poema “El Pajarito”: -corrigia muito seus poemas, soube porém que o único modo que o poeta tem de corrigir sua obra é ” corrigindo-se a si mesmo”, se reescrevendo, quer dizer, buscando os caminhos que vão do mistério da língua ao mistério da gente.
Bem, é isso que faz Marcela Villavella no livro “Te busca y te nombra”, entre as palavras já está entre as pessoas e as  ama com a verdade nas mãos.
Agora não há mais chuva, as nuvens sobem demasiado alto, demasiado longe, demasiado céu. Não há mais desculpas para aninhar o pássaro, mas a Poeta se recusa a deixá-lo, pois na busca que empreendeu    se encontrou nesse longo vôo, nesse longo bater de asas.      
A ele, ao pássaro, Marcela Villavella deve o poema. E ele, o pássaro, sabe da dívida impagável que tem com ela, por isso  é, ele mesmo, um verso.
Y todo termina con una esperanza, con una dilación
      –"ha estado bien"–, o en un bostezo, o en otro
      lugar donde es menester el coraje ( Paco Urondo) a coragem de, como poeta,  levar um pássaro entre as mãos.
                          Assim, se o tango é uma tristeza que se dança, a poesia de “Te busca e te nombra”  é uma dor que se escreve.

                          Obrigada, Marcela, por tuas mãos aninharem esse beija-flor.


Eliane Marques