quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

FESTIVAL MUNDIAL POESIA SEM FIM

Lúcia Bins Ely e Barbara Corsetti

Barreto

Maria Cristina Macedo
+ reciclador de lixo curtindo a poesia

Caoan Goulart e Leandro Oliveira

Anelore Schumann

Aconteceu em Porto Alegre um encontro de poetas
para a leitura de poemas ao ar livre,
inscrito no FESTIVAL MUNDIAL POESÍA SIN FIN,
com o nome
FESTIVAL POESIA SEM FIM
- de Cuba para o mundo -
O INFINITO NÃO É
IGUALMENTE INFINITO
EM TODAS AS PARTES

A poesia esteve presente no Parque Farroupilha e os passantes se aprochegavam para curtir a poesia universal.
Muitos poetas portoalegrenses se fizeram presentes e leram poemas seus e de grandes poetas.
Agradecemos à poeta Marcela Villavella que também esteve presente (embora estivesse em Buenos Aires)
nesta Festa da Poesia.
Foi tudo muito belo.
A realização foi do GRUPO CERO - psicanálise e poesia - com o apoio do Instituto Machado de Assis.
Música de Caoan Goulart - no clarinete - e Leandro Oliveira - ao violão.
Fotografias: Leonora Waihrich.
Agradecemos a todos,

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FESTIVAL POESIA SEM FIM em Porto Alegre

POETAS DO FUTURO
 
“A FIGUEIRA ERA O LUGAR DA SOMBRA.
FAZÍAMOS A VIDA, DIZENDO-NOS QUE ÉRAMOS FELIZES
METADE DO TEMPO SENTADOS À SOMBRA DA FIGUEIRA.”
(de Miguel Oscar Menassa)

Num sábado de sol, em torno a uma enorme e centenária figueira, no dia 18 de dezembro de 2010, como parte do FESTIVAL POESIA SEM FIM, o GRUPO CERO BRASIL e o INSTITUTO RECRIAR-CASA AMARELA, que desenvolvem o projeto POETAS DO FUTURO, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil), fizeram uma roda de poesia em homenagem ao poeta MIGUEL OSCAR MENASSA.
O “Poetas do Futuro” reúne crianças e adolescentes em torno da leitura e da escritura de poesia. Todos os seus integrantes vivem num lugar chamado Casa Amarela, que os abriga e lhes oferece melhores condições de vida, “para que en el mundo un niño se haga hombre”.
A roda começou como naquele poema do Lorca: às cinco horas da tarde.
O primeiro poema lido foi do livro YO PECADOR, do POETA homenageado.

EU PECADOR III
Amava as andorinhas.
porque aprendi delas a  voltar no verão.
No verão amava nas areias
a marca de teus pés.

Odiar
odiava somente o odor dos mortos.

Uma tarde mataram meu primo pelas costas
“Mão de ferro” o chamavam
Miguel, Miguel, meu bem amado e doce camarada.

Montavas a cavalo como o “Vaqueiro Solitário”
único e elegante
nas terríveis guerras do verão
me falavas de teu corpo
de teu corpo desnudo entre os cães
os cães lhe ladram à roupa, me dizias.

Desnudo um é mais um cão.
Deixar a casa do avô.
Esquecer do pátio e da figueira
não recordar jamais o gosto da menta
foi um golpe baixo da vida.

E vieram depois silenciosas mulheres
a violentar em minha lembrança o seu nome.
Veio depois tua morte traiçoeira.
Me contaram de tua cara extraviada de surpresa
porque esperar
- menos a morte –
havíamos esperado juntos qualquer coisa.
Logo entraram na roda alguns textos dos “Poetas do Futuro” (crianças e adolescentes entre 12 e 20 anos):
SEGREDO MORTO
Qual será nosso maior segredo?
Será aquele de que tenho medo?
Ou aquele do qual me arrependo?
Ele é um segredo íntimo,
Que não divido nem com meus primos.
Talvez esse segredo seja um mito
Do qual eu quero falar aos gritos
Escondo-o em meu corpo
Tento não manifestar no meu rosto
Mas ele ficará comigo até o meu último sopro
E assim será um segredo morto.
de Rafael Passos

SOMBRAS NA RUA
 Uma figueira no meio da rua
abaixo de uma lua,
uma rua e uma lua
e a figueira entre elas.
Na rua iluminada
os olhos de uma pessoa
refletem a lua
e os seus pés  pisam a rua.
E a figueira?
Continua ali, iluminada pela lua
a fazer sombra na pessoa
que pisa a rua.
de  Vinicius Guterres

CÃO FEROZ
Em uma casa diferente,
ao olhar para a frente, a Donna da casa  sai
de sua residência, e nota que há uma coisa errada
com seu mascote de estimação,
seu cão feroz e assustador acaba de matar um bebê:
o de sua vizinha favorita, a madame Madricur.
de Thiago da Silva     

A MÃO FECHADA DO OVO
A mão que faz a terra
quebra o ovo
o ovo é roubado
o cara que o rouba
frita um ovo
E COME!
“comida é água”.
de César Augusto Martins

BICICLETA ABANDONADA
Um dia eu vi uma bicicleta, sozinha, quase abandonada.
Mas ela estava para mim. Eu a peguei e saí com ela.
Só que não demorou muito e o
dono me encontrou e disse:
me dá aqui, se não eu vou queimar você em dois.
Tá bom, você venceu. Pegue e fique com deus.

de Fabiano Daniel Pereira

BOXEI A LUA
Era um guri que sonhava
viajar para a lua.
Então viajou para vários países
e vários estados e o mundo todo,
por que queria encontrar um FOGUETE.
Era um guri que só apanhava
Mas um dia ele disse:
Vou descarregar minha raiva
num ET, de repente ele é
mais fraco do que eu.
Então o guri lembrou que nos EUA
têm um FOGUETE e lá é um país rico.
Vamos lá!
Lua, aí vamos nós!
O ET vai apanhar tanto!!!!!
Mas quando o guri chegou lá não
havia ET nenhum.
E ele teve que boxear a lua.
de Israel Cunha  

JOSÉ
José onde você está?
- A festa acabou.

E agora onde você está?
- Estou na rua. Vou embora dormir
numa noite bela e escura.
Mas você dorme José?
 - Passo a noite olhando as estrelas
 e a lua, mas não há estrelas e lua.
E agora o que irá fazer?
 - Embora queira não posso
brincar com os cães, não há nenhum cão.
O que fará José?
 - Cem lua e cem cães.
de NÍcolas Gabriel Martins

SOMBRA
Onde eu vou, ela vai atrás.
Eu vou sair, ela vai atrás.
Eu vou ao hospital, ela está lá.
Eu vou para escola, ela está lá.
Qual é o nome dela?
Eu não sei dizer o nome dela.
Ainda não deu tempo para ela largar do meu pé.

DOM a SOMBRA.
de Douglas Moreira

PALAVRAS
Escrevo uma palavra
BIGODE
Depois dela escrevo a palavra
 LOIRO
e já tenho um BIGODE LOIRO
de Fabiano Escouto (Niño)
CORAÇÃO
Dizem que o coração
é vermelho,
mas o meu é de ouro.
Os dois são lindos e grandes
e rachados e lançados
por morte
de uma melodia.
Salvados de dentro e
desabados
e pesados.
O seu coração salvo
buscou outro
coração de ouro.

de Maicon de Paula

A RODA terminou com música popular brasileira.  Caoan da Costa Goulart e Matias Behrends Pinto (violão e cavaquinho) deram cordas à poesia.

O projeto Poetas do Futuro, por sua coordenação (Grupo Cero Brasil, poeta Eliane Marques), bem como o Instituto Recriar – Casa Amarela (por sua Presidência e coordenação, Gilmar Dal’Osto Rossa e Maria Cristina Gonçalves da Costa), agradecem ao FESTIVAL POESIA SEM FIM, por que a única maneira de viver é viver acompanhado.

Foto: Iria Boufleur

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

POESIAS INÉDITAS

               5

A partir de certo instante
só resta o tempo do abismo
com rosas ou sem rosas,
com molhes ou sem eles,
com outros rostos ou sem ninguém.

Não importa para onde miremos
ou falemos ou calemos.
O tempo do abismo tingirá
cada momento e cada coisa,
como um obliquo colorante
que não exclui nem sequer a ausencia.

O tempo do abismo
parece mais firme e seguro
que a não confirmada eternidade.


ROBERTO JUARROZ (Buenos Aires,1925 - 1995)

* Quadro: Las Alas del Tiempo de Miguel Oscar Menassa

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

POESIA SAINDO DO FORNO CERO


 CUESTA ABAJO

"Si arrastré por este mundo
la verguenza de haber sido
y el dolor de ya no ser."
           Gardel e Le Pera, 1934

Nos meus sonhos de criança,
Deputado ou senador,
Foi-se logo a esperança,
Restou uma profunda dor.

A vergonha do fracasso,
De um passado sem retorno,
No presente que faço?
Se só fiquei um estorvo.

São meses, anos de angustia,
Lembrando o que teria sido
E viver sem nostalgia

E agora no fim da vida,
Velho e amadurecido,
Resta a esperança perdida.

                                    Altayr Venzon


* Quadro: Fue Buenos Aires, Miguel Menassa

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

BLÁ-BLÁ-BLÁ: OS POETAS DO FUTURO com a poeta BARBARA CORSETTI


ACUPUNTURA
 
minha cor é local
faminta e no meio-fio
curto farpado circuito
o cartão postal de nossa derrota.
marquei hora com o tempo,
o sol move seus bispos e bilhetes
feito algo que acumula: acupuntura.
o mapa que me guia foi arrancado
minhas cicatrizes
cobram o condominio.
girando em si
o mundo é um coquetel molotov
feito agulha
copulando pele.
barbara corsetti

Barbara Corsetti é psicanalista e poeta do Grupo Cero Brasil.
Este foi um de seus poemas apresentado na atividade do Porto Poesia 4 chamada:
"Blá-blá-blá: os POETAS DO FUTURO com a Poeta Barbara Corsetti".

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

BLÁ-BLÁ-BLÁ: OS POETAS DO FUTURO com a poeta BARBARA CORSETTI



SEGREDO MORTO

Qual será nosso maior segredo?
Será aquele de que tenho medo?
Ou aquele do qual me arrependo?
Ele é um segredo íntimo,
Que não divido nem com meus primos.
Talvez esse segredo seja um mito
Do qual eu quero falar aos gritos
Escondo-o em meu corpo
Tento não manifestar no meu rosto
Mas ele ficará comigo até o meu último sopro
E assim será um segredo morto.

Rafael
Rafael faz parte do Grupo de Poesia da Casa Amarela Zero
(coordenado por Eliane Marques) que apresentou seus escritos
na atividade do Porto Poesia 4 chamada:
"Blá-blá-blá: os POETAS DO FUTURO com a Poeta Barbara Corsetti".

domingo, 5 de dezembro de 2010

LENDO OS GRANDES POETAS

Roberto Juarroz

Poema 55, quinta poesia vertical

Um amor mais além do amor
Por cima do rito do vínculo
Mais além do jogo sinistro
Da solidão e da companhia
Um amor que não necessite regresso
Porém tampouco partida
Um amor não submetido
Às chamas de ir e de voltar
De estar despertos ou dormidos
De chamar ou calar
Um amor para estar juntos
Ou para não estar

Porém também para todas as posições intermediarias
Um amor como abrir os olhos


Roberto Juarroz (Buenos Aires - 1925; 1995)
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)