quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

POESIA MUSICAL BRASILEIRA

(continuação) Homenagem a Elis Regina



Tou fazendo a louvação, louvação, louvação
Do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado
Querm tiver me escutando - atenção, atenção
Que me escute com cuidadeo
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvando oque bem merece
Deixo o que é ruim de lado

Louvo agora e louvo sempre
Porque grande sermpreé
Louvo a força do homem
A beleza da mulher
Louvo a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra
Louvao a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra

Louvo a amizade de amigo
Que comigo há de morrer
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver
Louvo a luta repetida
Da vida pra não morrer

Tou fazendo a louvação, louvação, louvação
Do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado
Quem tiver me escutando - atenção, atenção
Falo de peiot lavado
Louvando o que bem emrece
Deixo o que é ruim de lado
Louvando o que bem emrece
Deixo o que é ruim de lado

Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera

Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando enfim se apresentar
O dia certo e preciso
De toda gente cantar

E assim fiz a louvação, louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado, ser louvado, ser louvado
Se me ouviram com atenção - atenção, atenção
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece
Deixando oruim de lado
Louvando o que bem merece
Deixando o ruim de lado.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

LENDO OS GRANDES POETAS

LOUVAÇÃO - C/ JAIR RODIGUES


(Gilberto Gil/Torquato Neto)
1966


UMA HOMENGEM A ELIS REGINA (lembramos dela ao passarem 30 anos de sua morte)

Vou fazer a louvação, louvação, louvação
Do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado
Meu povo, preste atenção - atenção, atenção
E me escute com cuidado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado

E louvo, pra começar
Da vida o que é bem maior
Louvo a esperança da gente
na vida, pra ser melhor
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!
Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar
Procede bem quem não pára
De sempre mais trabalhar
Que só espera sentado
Quem se acha conformado.

(continuará)


ELIS REGINA C/ JAIR RODRIGUES de Gilberto Gil/ Torquato Neto (1966)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Norma e Miguel Oscar Menassa: Recital de Poesia em Madrid

Nota de imprensa do Recital de Poesia dos Irmãos Menassa



Um camina às vezes pelas ruas da cidade e pensa na guerra, nos corpos mutilados, enquanto escuta o som ensurdecedor das buzinas e sente em suas mucosas a fumaça das fábricas e dos tubos de escape. E a palavra crise, como uma funda arrojada com sua pedra dá golpes em sua cabeça, uma e outra vez, até lhe fazer sangrar. Então, de repente, no centro do coração da cidade, se abrem umas portas e se transpassa o umbral que nos separa da poesia e se entra em outro mundo. Ali, digamos por exemplo numa quarta-feira dia 11 de Janeiro do recém estreado 2012 na Fundação Progresso e Cultura, duas vozes musicais se derramam na noite madrilenha, fazendo a luz nas trevas.

A primeira voz, com matizes irisados, forte voz masculina, de herculínea potência: Miguel Menassa, que é muitos poetas, é um poeta do povo, simples e veraz, como nos mostra em Espelho delirante, é um poeta social, leia-se a Lei do estrangeiro, é um poeta lírico, como demonstra desnudando a poesia em Arte Poética, é um jogral de um amor inexistente, porque como ele bem diz, há almas que até que não se as invente, não se as conhecerá, e Menassa inventou outra maneira de amar, como se faz patente em sua belíssima composição: À medida que me aproximo aos 70 anos. Um amor, que apesar de burlar a morte emudecendo-a com sua beleza, sabe que algum dia, morrerá. Um amor que renuncia à eternidade para desdobrar-se em toda sua humanidade.

A Guerra, O Amor e a Poesia passadas pela pluma, e não é que não haja mortos, nem cidade, nem sangue, nem crise neste mundo poético, é que já as palavras não ficam trancadas como um bolo indigerível na garganta, e o indizível se recobre de versos, e se faz o mundo transitável, a tristeza bela, a dor suportável, e a alegria, que tantos estragos produz, rende mais que o pânico, e está permitido se olhar amavelmente e sorrir ao companheiro, porque estamos em festa, e ao fim e ao cabo, a poesia, permite também o amor. Isso, o indizível, foi dito sem saber, e uma aflição que o cidadão caminhante sentia sobre o peito se vai aliviando, como se uma mão caliente tivesse se aplicado sobre esse peito dolorido.

A segunda voz, Norma Menassa, cujo timbre é o canto de uma mulher serena, sábia caminhante pelos caminhos do poema, também se joga a nos mostrar que a história dos povos, há que ir buscá-la nos poetas, leiam as Democracias tiram sarro de mim, e comprenderão o instante, como o poeta é o que deixa as senhas aos homens futuros de que houve outros seres como eles, que amaram, que se mataram uns aos outros tolamente, por un pedaço de
pão ou de petróleo, e que depois, retirando o fuzil ou abandonando a cama, assinaram com seu nome aqueles versos que falavam da guerra, do amor ou da poesia. É imperdível o poema: A poesia não estorva.

Eu me pregunto: a energia que têm os Menassa, esse Gozo que demonstravam lendo, esse sorriso derramado sobre cada poema, com a satisfação que dá brindar ao outro o trabalho realizado (não é outra coisa a leitura de poemas). Essa energia a psicanálise a produz ou a poesia a produz? Para mim não há dúvida. Os poetas de 70 anos que conheço fora do círculo Grupo Cero, não gozam de semelhante fortaleza, de um ímpeto que tendo chegado e transpassado as costas dos 70, não declina. A máquina que gera o desejo, é a psicanálise. A psicanálise que está presente em toda a obra destes irmãos poetas, que puderam pensar um amor diferente, um mundo aquém das guerras, uma poesia, donde um sujeito grupal e seu desejo são o coração do poema.
Grupo Cero

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

LENDO OS GRANDES POETAS

LETANÍAS DE NUESTRO SEÑOR


DON QUIJOTE
(continuação)

Ruega por nosotros, que necesitamos
las mágicas rosas, los sublimes ramos
de laurel! Pro nobis ora, gran señor.
(Tiemblan las florestas de laurel del mundo,
y antes que tu hermano vago, Segismundo,
el pálido Hamlet te ofrece una flor.)
Ruega generoso, piadoso, orgulloso;
ruega, casto, puro, celeste, animoso;
por nos intercede, suplica por nos,
pues casi ya estamos sin savia, sin brote,
sin alma, sin vida, sin luz, sin Quijote,
sin pies y sin alas, sin Sancho y sin Dios.
De tantas tristezas, de dolores tantos,
de los superhombres de Nietzsche, de cantos
áfonos, recetas que firma un doctor,
de las epidemias de horribles blasfemias
de las Academias,
líbranos, señor!
De rudos malsines,
falsos paladines,
y espíritus finos y blandos y ruines,
del hampa que sacia
su canallocracia
con burlar la gloria, la vida, el honor,
del puñal con gracia,
líbranos, señor!
Noble peregrino de los peregrinos,
que santificaste todos los caminos
con el paso augusto de tu heroicidad,
contra las certezas, contra las conciencias
y contra las leyes y contra las ciencias,
contra la mentira, contra la verdad...
Ora por nosotros, señor de los tristes,
que de fuerza alientas y de sueños vistes,
coronado de áureo yelmo de ilusión;
que nadie ha podido vencer todavía,
por la adarga al brazo, toda fantasía,
y la lanza en ristre, toda corazón!

RUBÉN DARÍO (Nicaragua 18/01/1867, 06/02/1916)
do Livro Cantos de Vida y Esperanza, Los cisnes y outros poemas (Madrid,1905)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

LENDO OS GRANDES POETAS

LETANÍAS DE NUESTRO SEÑOR DON QUIJOTE



A Navarro Ledesma

Rey de los hidalgos, señor de los tristes,
que de fuerza alientas y de ensueños vistes,
coronado de áureo yelmo de ilusión;
que nadie ha podido vencer todavía,
por la adarga al brazo, toda fantasía,
y la lanza en ristre, toda corazón.
Noble peregrino de los peregrinos,
que santificaste todos los caminos
con el paso augusto de tu heroicidad,
contra las certezas, contra las consciencias,
y contra las leyes y contra las ciencias,
contra la mentira, contra la verdad...
Caballero errante de los caballeros,
barón de varones, príncipe de fieros,
par entre los pares, maestro, salud!
Salud! porque juzgo que hoy muy poca tienes,
entre los aplausos o entre los desdenes,
y entre las coronas y los parabienes
y las tonterías de la multitud!
Tú, para quien pocas fueron las victorias
antiguas, y para quien clásicas glorias
serían apenas de ley y razón,
soportas elogios, memorias, discursos,
resistes certámenes, tarjetas, concursos,
y, teniendo a Orfeo, tienes a orfeón!
Escucha, divino Rolando del sueño,
a un enamorado de tu Clavileño,
y cuyo Pegaso relincha hacia ti;
escucha los versos de estas letanías,
hechas con las cosas de todos los días
y con otras que en lo misterioso vi.
Ruega por nosotros, hambrientos de vida,
con el alma a tientas, con la fe perdida,
llenos de congojas y faltos de sol;
por advenedizas almas de manga ancha,
que ridiculizan el ser de la Mancha,
el ser generoso y el ser español!

(continuará)

RUBEM DARÍO (Nicaragua 18/01/1867, 06/02/1916)
do Livro Cantos de Vida y Esperanza, Los cisnes y ouros poemas (Madrid,1905)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

LENDO OS GRANDES POETAS

A YOLANDA GUEDES

Ao ano velho e caduco,
que se despede cansado,
daqui de Joaquim Nabuco
venho dizer: Obrigado!

Pelo que deste não deste
(nem tudo se logra obter),
pela franja azul-celeste
que ainda se pode ver;

pela brisa de Ipanema
com cheiro de sal e viagens;
por esse ou aquele poema
e sua ronda de imagens

pelo pouco de água clara
que o Prefeito nos mandou,
e pela delícia rara
com que a rua o festejou;

pelo riso das meninas
a passear de bicicleta;
pelas doces, pelas finas
emoções da tarde quieta;

pela santa luminosa
que em carro de ouro sorria
e, qual fantástica rosa,
transformava a noite em dia;

pela visita do neto,
que veio e que voltará;
pela corrente de afeto
que a vida sempre nos dá;

por tudo que o acaso trouxe,
ou melhor, o coração,
de leve, tranquilo e doce,
e que não cabe na mão;

pela mensagem de Yolanda,
Marlene, Wanda, e seus dois
irmãos - da minha varanda
aqui te agradeço, pois

a graça do sentimento
ilumina este momento.

Carlos Drummond de Andrade (Minas Gerais - 1902; Rio de Janeiro - 1987)