sábado, 11 de abril de 2009

+ provençais

Que a folha caia

(Arnaut Daniel)

Que a folha caia
dos galhos lá de cima
e o frio contraia
o vime e o vento oprima
e a doce rima
dos pássaros retraia:
só vejo a prima-
vera de amor que raia.


Tudo regela,
só eu me sinto arder,
que o olhar da bela
me faz reverdecer;
como tremer
se Amor me aquece e vela
e me faz crer
que por mim se desvela?

Boa é a vida
se a alegria a sustém,
se alguém duvida
é que vida não tem,
nem me convém
deixá-la desservida;
mais que ninguém
tive a porção devida.

Se Amor me abriga
não tenho a quem culpar,
quem me desdiga
fará lance de azar,
que ela é sem par
e não há quem consiga
sobrepujar
a minha bela amiga.

Não quero avença
com nenhum outro amor,
nem recompensa
outra que o seu calor;
nenhum senhor
de Pontremble ou Provença
pode me opor
outra melhor, que a vença.

Ninguém destrói a
beleza que irradia.
desde Savóia
não vi tão claro dia,
que desvaria
como a luz de uma jóia.
Assim queria
Páris a Helena em Tróia.

Tal é o portento
que tem minha afeição:
não há num cento
tão formosa feição;
é com razão
que o seu valor sustento
e a vejo tão bela em meu pensamento.

Leva canção
A ela o teu alento:
Sem ela, em vão,
Arnaut te deu talento.

(do livro "Invenção, de Arnaut e Raimbaut a Dante e Cavalganti", Augusto de Campos, SP, Arx, 2003)

Nenhum comentário: