quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

POESIA SAINDO DO FORNO

FUMAÇA MORTAL



"Con todas mis muertes
yo me entrego a mi muerte,
con puñados de infancia..."
Alejandra Pizarnik
I
vejo a morte
canoeira
mareando
me nina

Mãe morta
outra volta

um tiro nas costas
- não -
quero arrancar
da palma
poema
II

vida sobre morte
morte sobrevinda
entre
cadáveres
suicídio
black tie
loose
die

a morte
dá compasso
dá vida.

Lúcia Bins Ely
do Livro:
SOMBRA E LUZ (LANÇAMENTO 2011)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS


POEMA 35

É um momento de criação infinita,
me disse, estou a ponto de morrer.

Enquanto isso gozava pouco ou mais ou menos
a vida com ela era um idílio de sonhos,
tínhamos grandes peleias, sobretudo,
no dia depois
de haver gozado com exagero.

À noite, que trepada! Santo Deus!
Na manhã seguinte, propriamente, o calvário.
No princípio, sempre queria matá-la
até que um dia pude compreender
que era seu gozo o que a matava.
Cada vez que me causava dano
eu, em vinganço, a fazia gozar.

O gozo me sobressalta, não posso evitar,
primeiro sofreo porque sinto que vou morrer,
depois, quando me encontro relaxada e tranquila,
toda viva, sofro porque algum humano me salvou.
O ódio mais profundo sinto
quando me dou conta que devo tudo a ele,
um dia, ele me disse:
vagina funcionará, e vagina uncionou.
Depois, na metade de uma trepada,
me disse com ternura: a mulher deve poder
dizer toas as suas coisas, escrevê-las,
fazer de suas coisas a história da mulher,
de nosso tempo, de nosso mundo.
Depois, me ensinou a amar o trabalho
e ontem à noite me disse: já és livre.
Já sabes escrever, amar e trabalhar
e isso é o que necessita uma mulher
para poder produzir sua própria liberdade.

Escrever para que seja possível a vida.
Amar para poder construir o mundo
no qual haveremos de viver, pensar
e trabalhar para que símbolo e carne
não possam se confundir nunca mais.

Me encanta, disse ela com indolência, a vida
que me propões antes de me abandonar.
E não te perguntaste que, talvez,
prefiro escrever a história de nosso amor
que foi longínquo e impossível
e com o amor seguir insisteindo
ainda que nada se possa de todo ou vem,
e trabalhar só para poder te comprar.

A mim, para dizer a verdade, lhe disse,
não me importam muito os motivos
nem quem haverá de se beneficiar
com o que possas produzir.
Só quero que experimentes
essa virtude do homem
de poder, com suas mãos,
modificar o mundo.

E quanto à poesia e ao amor,
se fosses capaz de entender
a força do trabalho,
te daria plena liberdade.
Podes escrever melhor que eu, se o desejas,
e podes me amar tanto quanto queiras.
E se não és capaz de tant liberdade
podes escrever pior que eu
e podes amar outros amores
ou condenar-te a viver com os enforcados
ou encerrar-te em teu quarto,
limpando os colares e os arinhos de ouro
e passando a blusinha azul e branca
que tua mãe usava antes de morrer.
Também podes, se queres,
romper todos mes beijos,
queimar todas as cartas,
fazer picadinhos dos bordados do tempo
e começar, sozinha, desde o começo,
tudo de novo.

Miguel Oscar Menassa (Buenos Aires, 1940)
do Livro: La Mujer y yo

sábado, 10 de dezembro de 2011

HOMENAGEM À CLARICE LISPECTOR

"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

Clarice Lispector  nascida Haia Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, Ucrânia, 10 de dezembro de 1920Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977)
Clarice Lispector....estaria completando 91 anos hoje, nossa homenagem com este poema e mais duas frases suas:
......Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever...
... não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento......

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

SUPERMERCADO DE CALIFORNIA

Esta noche, Walt Whitman, al bajar divagando por apartadas calles con árboles y mirar consciente y preocupado a la luna llena, mucho pensé en ti.
Hambriento y fatigado em mi búsqueda de imágenes, en el supermercado de frutas iluminado con neón penetré y tus enumeraciones evoqué!
Que melocontones y qué penumbras! Familias enteras comprando de noche! Pasillos llenos de maridos! Mujeres entre aguacates, críos entre los tomates! Y tú, García Lorca, que andas haciendo allá abajo junto a las sandías?
A ti te vi, Walt Whitman, sin niño, viejo y solitario desbrozador, hurgando en las carnes del frigorífico y observando a los chicos delos ultramarinos.
Oí como a cada uno le preguntabas: Quién acabó con las tocinerías? A cuánto van los plátanos? Eres tú mi angelito?
Errante anduve siguiéndote por dentro y fuera de los brillantes pisosde latas, seguido imginariamente por el detective del local.
A trancos, juntos  en nuestra quimera solitaria, bajamos por despejados corredores probando alcachofas, apoderándonos de los manjares congelados y sin pasar nunca por caja.
Que hacemos ahora, Walt Whitman? Cerrarán dentro de una hora. A qué rumbos apunta esta noche tubarba?
(Tu libro toco y sueño en nuestra aventura del supermercado y veo lo absurdo que fue.)
Divagaremos toda la noche por solitarias calles? Los árboles suman sombra a la sombra, se encienden las luces y en breve vamos a encontrarnos solos los dos.
Vamos a perdernos errantes por el sueño de la América extinuida, América de azules automóviles por sus carreteras, camino de nuestro tranquilo refugio?
Ah querido padre, de barba gris, solitario y viejo maestro del coraje, qué América fue la tuya cuando dejó Caronte de remar y desembarcaste en la humeante margen y en pie viste desaparecer la barca en las sombrías aguas del Leteo?

Alenn Ginsberg ( Newark, Nova Jersey, 3 de junho de 1926 – Nova Iorque, 5 de abril de 1997)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

GRATITUD


Gracias aroma
azul,
fogata
encelo.

Gracias pelo
caballo
mandarino.

Gracias pudor
turquesa
embrujo
vela,
llamarada
quietud
azar
delirio.

Gracias a los racimos
a la tarde,
a la sed
al fervor
a las arrugas,
al silencio
a los senos
a la noche,
a la danza
a la lumbre
a la espesura.

Muchas gracias al humo
a los microbios,
al despertar
al cuerno
a la belleza,
a la esponja
a la duda
a la semilla,
a la sangre
a los toros
a la siesta.

Gracias por la ebriedad,
por la vagancia,
por el aire
la piel
las alamedas,
por el absurdo de hoy
y de mañana,
desazón
avidez
calma
alegría,
nostalgia
desamor
ceniza
llanto.

Gracias a lo que nace,
a lo que muere,
a las uñas
las alas
las hormigas,
los reflejos
el viento
la rompiente,
el olvido
los granos
la locura.

Muchas gracias gusano.
Gracias huevo.
Gracias fango,
sonido.
Gracias piedra.

Muchas gracias por todo.
Muchas gracias.

Oliverio Girondo,
agradecido.

Oliverio Girondo (Buenos Aires, 17/08/1891 - 24/01/1967)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

NORMA E PARAÍSO DOS NEGROS

Odeiam a sombra do pássaro
na preamar da branca face
e o conflito de luz e vento
no salão da neve fria.

Odeiam a flecha sem corpo,
o lenço exato da despedida,
a agulha que mantém pressão e rosa
no gramíneo rubor do sorriso.

Amam o azul deserto,
as vacilantes expressões bovinas,
a mentirosa lua dos polos,
a dança curva da água na margem.

Com a ciência do tronco e do rastro
enchem de nervos luminosos a argila
e patinam lúbricos por água e areias
degustando a amarga frescura de sua milenária saliva.

É pelo azul rangente,
azul sem verme ou rastro adormecido,
onde os ovos de avestruz ficam eternos
e deambulam intactas as chuvas bailarinas.

É pelo azul sem história,
azul de uma noite sem temor de dia,
azul onde a nudez do vento vai quebrando
os camelos sonâmbulos das nuvens vazias.

É ali onde sonham os torsos sob a gula da erva.
Ali os corais empapam o desespero da tinta,
os dormentes apagam seus perfis sob a madeixa dos caracóis
e fica o oco de dança sobre as últimas cinzas.

Federico García Lorca (Granada, 05/06/1898 - Granada, 17 ou 18/08/1936)
do livro Poeta em Nova Iorque.