ÁGUAS DE MARÇO
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É pereba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumueira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
Pau, pedra, fim, caminho
Resto, toco, pouco, sozinho
Caco, vidro, vida, sol, noite, morte, laço, anzol
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.
TOM JOBIM c/Elis Regina
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
LENDO OS GRANDES POETAS
VIETNAM
Mujer, ¿cómo te llamas? -No sé.
¿Cuándo naciste, de dónde eres? -No sé.
¿Por qué cavaste esta madriguera? -No sé.
¿Desde cuándo te escondes? -No sé.
¿Por qué me mordiste el dedo cordial? -No sé.
¿Sabes que no te vamos a hacer nada? -No sé.
¿A favor de quién estás? -No sé.
Estamos en guerra, tienes que elegir. -No sé.
¿Existe todavía tu aldea? -No sé.
¿Éstos son tus hijos? -Sí.
WISLAWA SZYMBORSKA (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
De "Mil alegrías -Un encanto-" 1967
Versión de Gerardo Beltrán
Mujer, ¿cómo te llamas? -No sé.
¿Cuándo naciste, de dónde eres? -No sé.
¿Por qué cavaste esta madriguera? -No sé.
¿Desde cuándo te escondes? -No sé.
¿Por qué me mordiste el dedo cordial? -No sé.
¿Sabes que no te vamos a hacer nada? -No sé.
¿A favor de quién estás? -No sé.
Estamos en guerra, tienes que elegir. -No sé.
¿Existe todavía tu aldea? -No sé.
¿Éstos son tus hijos? -Sí.
WISLAWA SZYMBORSKA (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
De "Mil alegrías -Un encanto-" 1967
Versión de Gerardo Beltrán
Marcadores:
poesia.,
Vietnam,
Wislawa Szymborska
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
POESIA SAINDO DO FORNO CERO
LUZ 1
Os meus pés
sepultados nos sapatos
me levam
cavalo alado
a todos os rincões do oceano.
Quisera ser aprendiz de feiticeiro
a extrair de cada coisa
sua magia.
Habito as pedras
as ondas
que dizem
do nunca, do nada, do
infinito caminho.
Me libertam
da pequena história que seguia.
Meu passado estala cego
com um paraquedas cavalgo
o apocalipse que estoura
em um novo entardecer.
Lúcia Bins Ely
do Livro: SOMBRA E LUZ
Editorial Grupo Cero Brasil, 2011
Os meus pés
sepultados nos sapatos
me levam
cavalo alado
a todos os rincões do oceano.
Quisera ser aprendiz de feiticeiro
a extrair de cada coisa
sua magia.
Habito as pedras
as ondas
que dizem
do nunca, do nada, do
infinito caminho.
Me libertam
da pequena história que seguia.
Meu passado estala cego
com um paraquedas cavalgo
o apocalipse que estoura
em um novo entardecer.
Lúcia Bins Ely
do Livro: SOMBRA E LUZ
Editorial Grupo Cero Brasil, 2011
sábado, 11 de fevereiro de 2012
LENDO OS GRANDES POETAS
FIM E COMEÇO
Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina.
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.
Alguém tem que jogar o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros carregando os corpos.
Alguém tem que se atolar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados.
Alguém tem que arrastar a viga
para apoiar a parede,
pôr a porta nos caixilhos,
envidraçar a janela.
A cena não rende foto
e leva anos.
E todas as câmeras já debandaram
para outra guerra.
As pontes têm que ser refeitas,
e também as estações.
De tanto arregaçá-las
as mangas ficarão em farrapos.
Alguém de vassoura na mão
ainda recorda como foi.
Alguém escuta
meneando a cabeça que se safou.
Mas ao seu redor
já começam a rondar
os que acham tudo muito chato.
Às vezes alguém desenterra
de sob um arbusto
velhos argumentos enferrujados
e os arrasta para o lixão.
Os que sabiam
o que aqui se passou
devem dar lugar àqueles
que pouco sabem.
Ou menos que pouco.
E por fim nada mais que nada.
Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens.
Wislawa Szymborska (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
Do livro: Wislawa Szymborska [poemas] Companhia das Letras. Tradução
Regina Przybycien
Continuamos com nossa homenagem a Wislawa Szymborska quem no último dia 1º de fevereiro morreu em casa, tranquilamente, dormindo.
Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina.
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.
Alguém tem que jogar o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros carregando os corpos.
Alguém tem que se atolar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados.
Alguém tem que arrastar a viga
para apoiar a parede,
pôr a porta nos caixilhos,
envidraçar a janela.
A cena não rende foto
e leva anos.
E todas as câmeras já debandaram
para outra guerra.
As pontes têm que ser refeitas,
e também as estações.
De tanto arregaçá-las
as mangas ficarão em farrapos.
Alguém de vassoura na mão
ainda recorda como foi.
Alguém escuta
meneando a cabeça que se safou.
Mas ao seu redor
já começam a rondar
os que acham tudo muito chato.
Às vezes alguém desenterra
de sob um arbusto
velhos argumentos enferrujados
e os arrasta para o lixão.
Os que sabiam
o que aqui se passou
devem dar lugar àqueles
que pouco sabem.
Ou menos que pouco.
E por fim nada mais que nada.
Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens.
Wislawa Szymborska (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
Do livro: Wislawa Szymborska [poemas] Companhia das Letras. Tradução
Regina Przybycien
Continuamos com nossa homenagem a Wislawa Szymborska quem no último dia 1º de fevereiro morreu em casa, tranquilamente, dormindo.
Marcadores:
Fim e Começo,
Prêmio Nobel de Literatura 1996,
Wislawa Szymborska
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
LENDO OS GRANDES POETAS
ALGUNS GOSTAM DE POESIA
Alguns -
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia -
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.
Wislawa Szymborska (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
Do livro: Wislawa Szymborska [poemas] Companhia das Letras. Tradução
Regina Przybycien
Homenagem a Wislawa Szymborska quem no último dia 1º de fevereiro morreu em casa, tranquilamente, dormindo.
Alguns -
ou seja nem todos.
Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.
Gostam -
mas também se gosta de canja de galinha,
gosta-se de galanteios e da cor azul,
gosta-se de um xale velho,
gosta-se de fazer o que se tem vontade
gosta-se de afagar um cão.
De poesia -
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei e me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.
Wislawa Szymborska (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
Do livro: Wislawa Szymborska [poemas] Companhia das Letras. Tradução
Regina Przybycien
Homenagem a Wislawa Szymborska quem no último dia 1º de fevereiro morreu em casa, tranquilamente, dormindo.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
LENDO OS GRANDES POETAS
POSSIBILIDADES
Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro Dickens a Dostoiévski.
Prefiro-me gostando das pessoas
do que amando a humanidade.
Prefiro ter agulha e linha à mão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não achar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los.
Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro os moralistas
que nada me prometem.
Prefiro a bondade astuta à confiante demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos conquistadores.
Prefiro guardar certa reserva.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de Grimm às manchetes dos jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas outras também não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
do que postos em fila para formar cifras.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro ponderar a própria possibilidade
do ser ter sua razão.
Wislawa Szymborska (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
Do livro: Wislawa Szymborska [poemas] Companhia das Letras. Tradução
Regina Przybycien
Homenagem a Wislawa Szymborska quem no último dia 1º de fevereiro morreu dormindo.
Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro Dickens a Dostoiévski.
Prefiro-me gostando das pessoas
do que amando a humanidade.
Prefiro ter agulha e linha à mão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não achar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los.
Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro os moralistas
que nada me prometem.
Prefiro a bondade astuta à confiante demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos conquistadores.
Prefiro guardar certa reserva.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de Grimm às manchetes dos jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas outras também não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
do que postos em fila para formar cifras.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro ponderar a própria possibilidade
do ser ter sua razão.
Wislawa Szymborska (Bnin-Polônia- 1923, Cracóvia- 2012)
Do livro: Wislawa Szymborska [poemas] Companhia das Letras. Tradução
Regina Przybycien
Homenagem a Wislawa Szymborska quem no último dia 1º de fevereiro morreu dormindo.
Marcadores:
Possibilidades,
Premio Nobel de Literatura,
Wislawa Szymborska
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
POESIA POPULAR BRASILEIRA
HOMENAGEM A ELIS REGINA
POT-POURRI "O MORRO"
(continuação)
Samba do carioca
(Carlos Lyra/Vinicius de Moraes)
Vamos, carioca, sai do teu sono devagar
O dia já vem vindo aí
E o sol já vai raiar
São Jorge, teu padrinho, te dê cana pra tomar
Xangô, teu pai, te dê mulheres para
amar
Esse mundo é meu
(Sérgio Ricardo/Ruy Guerra)
Saravá, Ogum, mandinga da gente continua
Cadê o despacho pra acabar
Santo guerreio da floresta
Se você não vem eu mesma vou brigar
Se você não vem eu mesma vou brigar
A felicidade
(Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Brilha tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
POT-POURRI "O MORRO"
(continuação)
Samba do carioca
(Carlos Lyra/Vinicius de Moraes)
Vamos, carioca, sai do teu sono devagar
O dia já vem vindo aí
E o sol já vai raiar
São Jorge, teu padrinho, te dê cana pra tomar
Xangô, teu pai, te dê mulheres para
amar
Esse mundo é meu
(Sérgio Ricardo/Ruy Guerra)
Saravá, Ogum, mandinga da gente continua
Cadê o despacho pra acabar
Santo guerreio da floresta
Se você não vem eu mesma vou brigar
Se você não vem eu mesma vou brigar
A felicidade
(Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Brilha tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
Marcadores:
Elis Regina,
Jair Rodrigrues,
Pot-pourri Morro
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
POESIA MUSICAL BRASILEIRA
Homenagem a Elis Regina
Poup-Pourri O MORRO
O morro não tem vez
(Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
O morro não tem vez
E o que ele fez já foi demais
Mas olhem só vocês
Quando derem vez ao morro
Toda a cidade vai cantar
Escravo no mundo em que estou
Escravo no reino em que sou
Mas acorrentado ninguém pode amar
Mas acorrentado ninguém pode amar
Feio não é bonito
(Carlos Lyra/Giangrancesco Guarnieri)
Feio, não é bonito
O morro existe mas pedem pra se acabar
Canta, mas canta triste
Porque tristeza é só o que se tem pra cantar
Chora, mas chora rindo
Porque é valente e nunca se deixa quebrar
Ama, o morro ama
Amor bonito, amor aflito
Que pede outra história
Poup-Pourri O MORRO
O morro não tem vez
(Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
O morro não tem vez
E o que ele fez já foi demais
Mas olhem só vocês
Quando derem vez ao morro
Toda a cidade vai cantar
Escravo no mundo em que estou
Escravo no reino em que sou
Mas acorrentado ninguém pode amar
Mas acorrentado ninguém pode amar
Feio não é bonito
(Carlos Lyra/Giangrancesco Guarnieri)
Feio, não é bonito
O morro existe mas pedem pra se acabar
Canta, mas canta triste
Porque tristeza é só o que se tem pra cantar
Chora, mas chora rindo
Porque é valente e nunca se deixa quebrar
Ama, o morro ama
Amor bonito, amor aflito
Que pede outra história
Marcadores:
Elis Regina,
Jair Rodrigrues,
Pout-Pourri do Morro
Assinar:
Postagens (Atom)