quarta-feira, 15 de abril de 2009

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_ Escuta, bobona, já está pronto. Ouçam os dois, agora vai começar. A palavra é menta, tudo nasce daí, vejo tudo mas não sei o que vai ser. Agora esperem, a sombra da menta nos lábios, a origem sigilosa de certas bebidas que se degustam sob luzes de fumaça, retornam algumas vezes como palavras e se somam à lembrança para não deixá-la sozinha sob as antigas luas. (“Bom poema”, disse Marta em meu ouvido enquanto escrevia, rapidíssima). Tudo isto é vão, o importante continua sendo a atitude sóbria dos prédios e as nuvens baixas; no entando, forma parte de vidas já depositadas no fundo de copos secos, com marcas de lábios na beirada onde a poeira do amanhecer se decanta, inumerável.

(do livro Divertimento, de Julio Cortázar, Civilização Brasileira, RJ, 2003, pp. 9 e 10)

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