quarta-feira, 27 de abril de 2011

GRUPO CERO NA RADIO PAMPA

 
Hoje, a partir da meia-noite na Rádio Pampa AM (970kHz),
no Programa Tribuna Popular com o apresentador:
Altayr Venzon, estaremos conversando sobre psicanálise e poesia.
 

Como tanto a psicanálise como a poesia fazem uma leitura diferente da realidade. O modo ingenuo de pensar, o modo ingenuo de ler, é o modo que temos que suspender para poder entrar numa novidade que vai subverter no mínimo o nosso modo de pensar.


Com Lúcia Bins Ely (psicanalista e poeta do Grupo Cero)

"Em nenhum outro lugar [a não ser na poesia] - diria Freud, eu não me animo a dizê-lo, estou dizendo por ele - em nenhum outro lugar que na poesia, aquela poesia produzida por aquele suposto método que ainda não sabemos qual é, mas é o método da poesia como instrumento de conheciemnto, seria o único espaço, o único tempo em que o psicanalista encontraria o que já se produz em sua prática." (do livro: Freud e Lacan - Falados - 1, de Miguel Oscar Menassa)


Tu podes interagir ao vivo ligando para a rádio!

E/ou na internet: www.radiopampa.com.br

sábado, 23 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

 

Vivem em nós inúmeros 

Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.


Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu 'screvo.


Fernando Pessoa  (Lisboa, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935)
Odes de Ricardo Reis no livro: OBRA POÉTICA, Editora Nova Aguiar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

PALAVRAS DE PÓRTICO

NAVEGADORES ANTIGOS tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso."
Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessario; o que é necessario é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essencia anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a patria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa  (Lisboa, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935)
no livro: OBRA POÉTICA, Editora Nova Aguiar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

AFORISMAS

Delirio de Amor (Miguel Oscar Menassa)

"Não se pode revolucionar nada sem escritura, nem sequer o amor."


"Minha escritura, cada dia que passa, é mais que eu."


"Escrever, também contra mim mesmo."

Miguel Oscar Menassa (Buenos Aires, 1940)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS


Preparação para a morte
A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
O tempo é um milagre
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
– Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.

Manuel Bandeira (Recife - 19 de abril de 1886/ Rio de Janeiro-1968)
 (do Livro: Meus poemas preferidos. Ediouro, Rio de Janeiro, 1998.)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

Soneto Sonhado*

Meu tudo, minha amada e minha amiga,
Eis, compendiada toda num soneto,
A minha profissão de fé e afeto,
Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga.

O que n'alma guardei de muita antiga
Experiência foi pena e ansiar inquieto.
Gosto pouco do amor ideal objeto
Só, e do amor só carnal não gosto miga.

O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nós! Não vem de nós. Viria
De onde? Dos céus?... Dos longos da distância?...

Não te prometo os estos, a alegria,
A assunção... Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.

Manuel Bandeira (Recife - 19 de abril de 1886/ Rio de Janeiro-1968)
 (do Livro: Meus poemas preferidos. Ediouro, Rio de Janeiro, 1998.)

*Como se depreende do título, foi este soneto composto pelo autor em estado de sono.
Ao despertar só se lembrava das palavras que vão aqui em grifo; das outras retinha apenas o sentido geral, de sorte que teve de completá-lo em estado de vigília.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

CLARICE LISPECTOR

Cartas

Clarice Lispector textos


“Quando comecei a escrever, que desejava eu atingir? Queria escrever alguma coisa que fosse tranqüila e sem modas, alguma coisa como a lembrança de um alto monumento que parece mais alto porque é lembrança. Mas queria, de passagem, ter realmente tocado no monumento. Sinceramente não sei o que simbolizava para mim a palavra monumento. E terminei escrevendo coisas inteiramente diferentes.”
“Não sei mais escrever, perdi o jeito. Mas já vi muita coisa no mundo. Uma delas, e não das menos dolorosas, é ter visto bocas se abrirem para dizer ou talvez apenas balbuciar, e simplesmente não conseguirem. Então eu quereria às vezes dizer o que elas não puderam falar. Não sei mais escrever, porém o fato literário tornou-se aos poucos tão desimportante para mim que não saber escrever talvez seja exatamente o que me salvará da literatura.
O que é que se tornou importante para mim? No entanto, o que quer que seja, é através da literatura que poderá talvez se manifestar.”



Clarice Lispector  nascida Haia Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, Ucrânia, 10 de dezembro de 1920Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977

quarta-feira, 6 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

Clarice Lispector  nascida Haia Pinkhasovna Lispector (Chechelnyk, Ucrânia, 10 de dezembro de 1920Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977

domingo, 3 de abril de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

PNEUMOTÓRAX



Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira (Recife - 19 de abril de 1886/ Rio de Janeiro-1968)