terça-feira, 27 de abril de 2010

POESIA saindo do forno CERO

    
             "ao nosso redor chuva chove"

     I
água, água
me molha o pelo
me molha me molha
me brotam...

e mais água água
águaviva
gerando...

chovo colho colhe
chove chove chove

chove chove chove
cai do céu vida sobre a terra

     II

boiam na poça
e meus pés
molhados
meus pés
molhados
absorvem no mar da linguagem
chispas carnais
zarpam de mim
feito letreiros luminosos
de sonho

     III

chuva que me faz alma
palma que me escreve
verde vade vida
verso em dó
em pena de ninguém
restea de esperança
brota feito bomba atômica
atônita
permaneço
          dança

     IV

vestigios de ninguém
arrastando tudo
água que cai sob o ceú de capricornio
abre clareira
e nada
e nado
nos escombros
sob os poetas mortos

Lúcia Bins Ely

sábado, 17 de abril de 2010

TOURO SENTADO O VISIONARIO - VII


E vi,
- minha alma submergida no mortal veneno,
da supremacia -
a visão transcósmica,
uma visão,
mais além da vida.

Os abismos, as pedras,
- que embruteciam e alegravam
de uma só vez,
nosso horizonte -
os mais altos cumes,
os pássaros de fogo,
- a cálida metralhadora e o álcool -
e nossa propria maneira de viver,
tudo,
contra nós mesmos.

Imerso,
em semelhante e juvenil loucura,
inventei a velhice e propus,
para os mais anciãos,
a muerte súbita.

Tanta força,
quis imaginar,
seria suficiente,
para lançar a voar,
alguns filhos,
algumas palavras.

MIGUEL OSCAR MENASSA
do livro: Canto a nossotros mismos tambiéns somos América - 1978

TOURO SENTADO O VISIONARIO - VI -

E não obstante,
nesse dia,
a guerra,
não foi dura,
para meus jovens.

Se tratava de um duelo,
- uma fina competição entre valentes -
eu
tive que matar
e nesse gesto,
onde tudo era nosso,
- onde com a violencia da verdade,
ficava claro,
que o poder,
que o bendito todo poder,
era nosso corpo
 perdemos,
a última batalha.


MIGUEL OSCAR MENASSA
do livro: Canto a nosotros mismos también somos América - 1978.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

TOURO SENTADO O VISIONARIO - V -

E a noite da ardente loucura,
da loucura coletiva, passou lentamente.
E todo o ritmo
e toda a algazarra do tam-tam,
- violento e vermelho de ira pelo amanhecer -
foram, nossas historias.
Tudo foi, grandeza atrás de grandeza.
Nenhum de nós chorou, porque chorar,
não conhecia o coração do indio. A marca,
a verdadeira marca da historia, para nós,
foi a altivez, a soberbia.
Nunca fomos humildes, antes, sórdidos. Sabíamos,
que mais além da colina, ao homem,
o esperava a morte.

Miguel Oscar Menassa
do Livro: Canto a nosotros mismos también somos América

terça-feira, 6 de abril de 2010

TOURO SENTADO O VISIONARIO - IV -

Nesta noite, a última, quero festa
Uma agonia lenta, até o amanhecer, com fogo de licores,
com nossas drogas da visão perene e a famosa,
brilhante pinturinha para indios, em nosso rosto,
em nosso peito moldado pela vida,
na arquitetônica bunda, das belas mulheres.
Vermelhos tambores, artistas do ruído, para a dança.

Cada hora, dançando, é um milagre da vida.
Cada hora, dançando, se transforma em milenios.
Ser, com este ritmo, lhes asseguro,
seremos históricos.

Miguel Oscar Menassa
do livro: Canto a nosotros mismos también somos América