quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

AFORISMOS E DIZERES

Se é possível o poema é possível a vida.

1560: Quando já não possa pintar porque minhas mãos caiam e já não possa escrever porque  tenha ficado quase sem mirada e a mulher desapareça porque eu já não tenha coração, todavia, ainda, resta a morte para amar, ainda, todavia, amarei a liberdade.



14: A cultura é grátis, se não consigo ser rico, pelo menos teria que ser culto.


17: Lutando box aprendi que não há golpes duros, a menos que um golpe te ponha fora de combate.


20: Se desvanece a alma, começa o poema e todo ser é uma abertura inconsolável. Mais do que registro, rasgadura sem harmonia.


24: No início ela tinha um pouco de dinheiro e eu um pouco de inteligencia. Despois os dois fomos muito famosos. Ela se tornou muito inteligente, e eu para conseguir algo de dinheiro, tive que trabalhar.


Hoje ambicionamos um grau de civilização em que o homem deixe de pertencer a si mesmo.

(de Miguel Oscar Menassa, do livro: Aforismos y decires, Grupo Cero, 2008)
Miguel Oscar Menassa - indicado ao Premio Nobel de Literatura 2010

domingo, 20 de dezembro de 2009

POESIA saindo do forno CERO


Assombroso: o mínimo, às vezes, faz o máximo





O novo não vai ser


palavras como carne,


não me acovardo


por denuncia


onde tudo me destrói


singularmente te toco.






Me convenci


que o amor me faz voar


assim encontro virtudes


nos pequenos gestos.






Mesmo que a poesia,



de nada necessite.







Renato Battistel

terça-feira, 15 de dezembro de 2009


                         Amor ante la Muerte (óleo sobre tela de Miguel Oscar Menassa)



No caminho encontrareis o ouro e a pobreza,


os precipicios fundos e as grandes planicies.

Haverá em vossos caminhos, não duvideis,


emboscadas, traições, vis injustiças,


por isso


é conveniente viajar acompanhado.






E, quando conseguirdes algum pão, algum dinheiro,


tentai reparti-lo o melhor possível entre todos.


Alguém que comeu


e tem dinheiro para o pão de manhã,


em algo se sentirá feliz e seu trabalho


não será dirigido pela fome ou pelo odio


senão pelo amor ou pela liberdade.





de Miguel Oscar Menassa



do Livro: La Maestría y Yo (Editorial Grupo Cero, 2007)



(Miguel Oscar Menassa é o diretor internacional do Grupo Cero)

sábado, 12 de dezembro de 2009

POESIA CERO


LÁGRIMA





Lágrima

ânima bendita,

maldito animal,

lacrimal e luz em teus olhos

claros cristalinos vidros à distancia.




E se brotassem?

E se todavia brotassem, como unhas crescendo

no próprio centro da terra?

E se brotassem lágrimas de despedida silenciosa?

E se tristeza e emoção pactuassem outra vez com essa agüinha

com esse tenue testemunho do tempo?

Algas, búzios,

mares profundos e obscuros,

negros oceanos,

atlânticas tempestades,

lagos azuis, rios torrenciais em meu peito,

cataratas, estrondos líquidos do amor.



Marcela Villavella

(do livro bilingue: Arado de Palavras, Grupo Cero, 2008)

(Uma singela homenagem à Marcela Villavella psicanalista, poeta neste 12 de 12 de 2009 dia em que aniversaria.
PARABÉNS MARCELA, em nome do grupoceroversob)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

POESIA CERO

a Apollinaire


A antiguidade
pra lá desta Torre Eiffel
leva os retratos vazios

da mãe azulada de gás
que inunda a cidade
dos respiradores raivosos

Zunem
perdões
e corvos desterrados

Fênix e máquina
misturados na
vergonha das melancias.

                               Lúcia Bins Ely




(Lúcia Bins Ely é integrante da Escola de Poesia Grupo Cero,
no Brasil, com sede na Cabral, 225, Bairro Rio Branco, Porto Alegre)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Do livro: A Mulher e Eu de Miguel Oscar Menassa


























Miguel Oscar Menassa, Los Brillos de la Noche
(Óleo sobre tela, 2008)



41



Me prometeste que compraríamos uma casa
e me trouxeste para viver na casa de tua mãe.
Sou proibida de entrar na cozinha
e, quando estou sozinha ou contigo,
supostamente, em nosso dormitorio,
me sinto fortemente vigiada.
Depois, também estão tuas irmãzinhas
que me olham como se eu fosse a intrusa.
Eu só te vejo domingo à tarde,
se seguimos assim terminaremos separados
tu violando ou amando a tua mamãe
e eu trabalhando de puta enamorada
no corredor da morte em Boston.
Ele movia a cabeça afirmativamente
mas nunca me escutava, nunca me via.
Eu deixo passar 2 ou 3 dias e, como ele
não me diz nada, nenhum gesto ou palavra,
lhe conto contente o que penso fazer.
Ele não entende nada mas segue o trem,
ao que eu disse, ele, sem escutar disse que sim
eu queria lhe dizer que ia embora com seu amigo Pepe,
à selva obscura do pássaro gris e à nostalgia.
Que não se preocupoe, queria lhe dizer,
que o dinheiro que falta na conta
o utilizei eu, comprando malas,
comprando essas flechas com aquele veneno
que ao apenas te tocar geram amor
e um pouco de felicidade engarrafada no vazio
pelas dúvidas estranhei seu silencio.
Depois, também comprei para Pepe
um par de calçõezinhos e uma camisa vermelha
e, se sobra algo ainda, quando volte,
porei na conta em teu nome.

O camarada Cornelio, que assim o chamavam,
não escutou e não viu nada até a segunda de manhã
quando o gerente do banco o chamou,
desesperado, para lhe dizer, tremendo:
Don José, Santo Deus, seu dinheiro sumiu!!

Não se preocupe, senhor gerente,
devem ter sido a puta de minha mulher
e o canalha de meu amigo Pepe.
Podendo fazer amor abaixo de minhas narinas
vão até a África Negra para que ninguém os veja.

Gastam muito dinheiro tratando de se esconder
quando aqui em Madrid, em nossa propria casa
convivem com putas e nobres, chulos e presidenciáveis.
Não entendo isso, senhor gerente,
não posso entender isso, assim
que, quando voltem da selva,
jantarei com eles e lhes direi:
A partir de hoje, querida minha
e doce amigo da alma,
com vocês dois não farei mais negócios
assim que, a partir de hoje, entre nós
somente poderemos o amor, as ilusões.

de Miguel Oscar Menassa
do Livro: La Mujer y Yo (Editorial Grupo Cero, 2003)

(Miguel Oscar Menassa é o diretor internacional do Grupo Cero,
está indicado ao Nobel de Literatura 2010)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

HOJE: SARAU POÉTICO



A Casa de Cultura Mario Quintana fica no centro de Porto Alegre
na Rua dos Andradas, antigo Hotel Magestic.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

POESIA saindo do forno CERO




MADEIRAS




é álbum

de rostos difusos

juntados pelo ocaso



a camponesa a misturar

o sapato negro

com o barro



no aberto entre eles

o carvalho a criança

o saquinho de leite e



um inseto com

a cara na vidraça



seres de raízes des-asadas



e têmperas de sol

onde o amarelo lava

a solidez de uma mulher



que no contragolpe de madeira

transporta a pátria exilada


Eliane Marques

 
(Eliane Marques é integrante da Escola de Poesia Grupo Cero,
que acaba de lançar seu primeiro poemário: RELICÁRIO)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

LENDO OS GRANDES POETAS


CASAMENTO


                                                                                                                                                     

Adélia Prado


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

(Do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida")

Adélia Prado (nascida a 13 de dezembro de 1935) nossa homenageada no Sarau 2001 Noites desde Menassa - dia 04 de dezembro - 4º andar da Casa de Cultura Mario Quintana - PoA - 19h.
Venha participar lendo poemas desta autora e próprios!