sexta-feira, 10 de abril de 2009

+ psicoanálise






O DIZER HIPOCONDRÍACO



"Os médicos do final do século XIX rechaçavam a idéia da morte ligada à superstição, que falava da morte como um estado misto, mescla de vida e morte. Para eles, a morte não era mais que um ponto geométrico sem espessura nem densidade, a morte não era mais que uma palavra equívoca da linguagem, para designar a detenção da máquina, a simples negatividade."


El hombre ante la muerte. Philippe Ariès


O hipocondríaco diz que tem medo de morrer.
Na “Revista Extensión Universitária”, um trabalho sobre “La Histeria y el erotismo de la insatisfacción”, de Amélia Diez Cuesta, diz que “O sujeito nunca está além da linguagem, porém a palavra sempre está mais além do sujeito... a linguagem é mais máquina que nos faz funcionar que utensílio ao qual damos utilidade”.
Para a psicoanálise não há enfermidade fora da estrutura da linguagem e desde aí entrei no tema da hipocondria, pensando-la como maneira de se posicionar com relação à linguagem.
Uma certa complexidade se abre ao se dizer linguagem do hipocondríaco e até poderia resultar controvertido, pois, é sabido que o hipocondríaco padece de sérias dificuldades de simbolização. Ademais, compromete-se na mesma frase o conceito de hipocondria com o de linguiagem.
Alguns autores ao se referirem à hipocondria dizem: “ela fala do órgão”, ou como Freud a chamava em 1915, o Organsprache, contudo, aludindo à Fala como faculdade e meio expressivo, embora independente da participação de sons, como demonstrava no caso Dora, quando lia na afonia, e a insistência havida em escrever durante esses momentos, que : “Aqueles cujos lábios calam, falam-conversam com todos os dedos”.
Comumente se lhe adjudica a categoria de afecção, sofrimento, padecimento ou enfermidade caracterizada por uma grande sensibilidade do sistema nervoso com tristeza habitual.
A atitude “o temer estar enfermo ou o medo de morrer” ´é a que captura a vida do paciente e a que adquire maior preponderância quando se descreve a hipocondria.
O conceito psiquiátrico habitual põe o acento num temor exacerbado a estar enfermo, e sua particularidade reside na ausência de lesões comprovadas.
Todavia, quando Freud fala da hipocondria e das diferenças e similitudes que mantém com a enfermidade orgânica, chega à noção de que a diferença entre ambas, quer dizer, a existência de uma lesão no órgão, quiçá não tenha qualquer importância.
De outro lado, falará do traço hipocondríaco como uma diminuição do umbral da sensação somática. Dessa maneira, o paciente fala do órgão insistentemente por que essa diminuição do umbral determina que seja o órgão o que lhe fale por meio da sensação somática.
A hipocondria é algo muito complexo que nos enfrenta no vasto território que vai desde o sintoma hipocondríaco à enfermidade psicossomática e ao sintoma histérico de conversão. Ademais, relaciona-se com a psicose, com a paranóia, com a fobia e até se chama histeria masculina.

Até a 2ª parte desta matéria, na próxima sexta-feira.
Gracias,

Marcela Villavella

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