quarta-feira, 8 de abril de 2009

poesia cero



por que parteiras
anunciam
as dívidas impagas

por que o vento
pesado sarcófago
emoldura o relato

num cortejo de parentes
com presentes de adeus
e lágrimas da última hora

oferendas de carne
nos cômodos salgados
carroçam a sorte

sandálias e túnicas
chocam as esculturas da
porta

com carvão marquem
o cozinheiro
o olho de hórus
a esposa do padeiro
e cinco ratos!

também a fome gaguejante
de um harpista obeso
seu gosto de mel
e hálito de pústulas

damas da noite
recolham as contas
dos cabelos

a peste
atravesse as paredes
do pátio

contra o chacal
os lagos de obsidiana
200 bois montados
em 11 operários

raios movediços
no aposento
de vestes

amarna
pelo amor das gentes
pão e ópio

jasmim
e morte

no túmulo de tebas

um faraó
revirado por lençóis
atira seus pulsos de lótus

(eliane marques)


2 comentários:

Anônimo disse...

Eliane: que alegria reconhecer o traço do poeta em uma linha, em uma única linha. "por que parteiras..."
Não precisava ler mais sílaba, ou palavra alguma. Toda tu, intensa.

Fernanda Nunes.

Grupo Cero VersoB disse...

Fernanda,

Por que parteiras
são sílabas aninhadas,
alegria intensa
na tua palavra,
veia poética
que (já) exala.

Gracias por tuas generosas palavras.

Verso B