quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

VERSO B


Que fazer de uma rosa de areia, fugitiva,
contínua como o arroio? Cerquei-a como pude
de uma figura ou duas, somei-a à infinitude
que vi brilhar em certas ruas, sem que viva
ao fim desses volteios mais que a sombra furtiva
de uma aquarela fria. Um dia, ante um açude
de minha meninez, comparei a altitude
e a placidez de um par de luas: uma viva,
altiva, e a outra o rosto da Ofélia suicida;
deduzi do desdobramento do universo
entre a imagem e o reflexo, a explicação da vida,
a senha para o ser, e enganava-me – o inverso
do que amei e perdi também não tem medida,
Alexandria e a luz não cabem no meu verso.

(de Bruno Tolentino, livro “A imitação do amanhecer” (1.5), Editora Globo, p.33)

Um comentário:

Carlos Fernández del Ganso disse...

BIENVENIDO A LA AVENTURA DE LOS BLOGS. UN ABRAZO. Carlos Fernández