domingo, 18 de janeiro de 2009

HISTÓRIAS CERO

(O Interior, de Henri Matisse)

O PENSIONATO

por Eliane Marques

noite 4

A rua da minha infância era a de cidade do interior cujo pátio da casa da avó é um cemitério de lençóis brancos engomados. Na época se usava engomar as roupas dos patrões que preferiam o serviço das negras às maquinas de lavar. Havia passado o tempo do arroio, esse fora o de minha avó e morreu junto com suas histórias de lobisomem e de mula sem cabeça. Minha mãe e tias exorcizavam a imundície das vestes (e de seus donos) no tanque de pedra colocado no meio do pátio, a uma distância estratégica entre a casa e o varal, de modo que pudessem correr com mais presteza para um ou outro lado no caso dos gritos de minha avó ecoarem seus nomes. De longe se ouvia as camisas serem batidas como meninos travessos apanhando por se haverem intrometido na conversa dos adultos. Minha mãe era a que batia mais forte e sabíamos da sua raiva pelos gemidos das roupas na tábua de lavar. Às vezes ela permitia que tomássemos banho de mangueira no tanque, nesses dias sabíamos da tristeza dos vestidos de menina pendurados no varal.

Nenhum comentário: