domingo, 11 de janeiro de 2009

HISTÓRIAS CERO

(óleo sobre tela, "O Filho do Homem", de René Magritte)


O SONHO

por Barbara Corsetti

PARTE I

A chegada foi tranquila.
Logo as malas ficaram nos seus quartos e fomos para o jardim, havia duas piscinas imensas.
Dentro da casa, também imensa, me perdi de alguns de nós.
Procurei por alguém. Parece que mais gente fora convidada. Gente e gente o tempo todo.
Em frente a uma das piscinas, escorreguei e, num instante, já estava no fundo. Não sabia nadar. Estranho porque eu sempre soube nadar e naquela hora a água me imobilizava.
Havia uma menina no lado de fora da piscina.
A menina me olhava.
Ela me olhava afundar enquanto eu a olhava me olhar.
Espichei os braços pra ela.
Ela estendeu os dela pra mim, e nada, não conseguimos nos alcançar.
Eu continuava afundando, agora bem no meio da piscina.
O quente da água me sufocava.
Movimentei braços e pernas até que cheguei à beira.
Olhei ao redor e não vi a menininha.
Ninguém ali.
Entrei e tomei um banho.
Vi outras pessoas chegando, muitas pessoas. A casa era um enorme castelo.
Sentei num dos bancos do pátio da frente com outras mulheres que ali estavam. Perguntei se viram meus amigos. Responderam que não. Falavam outra língua, mesmo assim nos entendíamos. Para puxar conversa, contei do meu mergulho (acidental) na piscina. Uma delas olhou pra mim e perguntou – você voltou pro útero?
Foi exatamente o que aconteceu, respondi.
Elas baixaram os olhos e depois riram alto, muito alto.
Nenhuma me olhava. Continuavam tricotando.
Falavam.
Eu ouvia, mas não estava mais ali.

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