sábado, 24 de janeiro de 2009

NOVELLA ZERO




Marcela Villavella é poeta e psicoanalista argentina. Todavia, pelo que faz com as palavras (entre parênteses, para que ela não saiba: menos pelas palavras e mais pelo número do sapato e, às vezes, a forma do cabelo ou um vestido que usa) é tida como a Mafalda do Grupo Cero Brasil. Todo o mês toma, com vinho portenho, um avião bem analisado e tomba, com sua mandrágora falante, aqui, no Porto dos Casais. Dizem as más línguas que nestas terras promove separações e abandonos de lar, tendo enfrentado, inclusive, em função do ofício, processos judiciais propostos pelos vitimados.
Pois bem, não é que a Mafalda brasileña nos contagiou com um grave sintoma argentino o qual conseguimos identificar graças a Cortázar, em texto que logo postaremos neste blog, chamado “Grave problema argentino: Querido amigo, estimado, ou o nome puro e simples”. Sim, ao ter que nomeá-la não sabemos se a chamamos por: querida amiga, estimada ou seu nome puro e simples ou ainda outro que lhe caiba (bem) em seus 1, 60 cm; um nome que não pese demais ou de menos, em fim, um nome que possamos carregar sem sinais evidentes de um crime. Neste passo, ela mesma resolveu a questão nos mandando de Buenos Aires, semanalmente, suas novelas, de modo que não temos escolha e apenas podemos lhe nomear de querida, generosa, ...Marcela Villavella e acabou-se. Das novelas, digam nossos leitores enviando-nos mensagens por que tememos dizer sobre elas algo apaixonado e sermos qualificadas de imparciais ou, o que é pior, de puxa-sacos.

Boa leitura,
As editoras.



SESSÃO DE PSICOANÁLISE (3)
(de Marcella Villavella)

Mariano....
Vamos, suba.
Agora recordo que Mariano faltou à sessão anterior, deixou uma mensagem na secretária eletrônica do consultório dizendo que não se sentia bem... não se sentia bem? Veremos...
_ Oi Ana, bom dia, entro?
_ Sim, adiante.
_ Não vieste no outro dia, te lembras?...
_ bom... estava numa encrenca danada, soube que minha mulher tem um amante... um colega de trabalho... foi por casualidade que soube... a esperava no bar da esquina do seu trabalho e, na mesa do lado, havia duas companheiras do escritório falando dela e de um tal de Alfredo, que mantinham um namoro, e não sei o que mais diziam, porém fiquei enlouquecido...
_ podes continuar...
_ me recordo desse momento e não posso acreditar... de repente vejo que ela entra no bar e cumprimenta suas companheiras e vem cumprimentar a mim como se nada...
_ te cumprimentava, como é isso de “como se nada”...
_ eu estava enlouquecido, entende, o que havia escutado... e ela assim, tão faceira... me tapei de raiva, porém não lhe disse nada, porque primeiro queria falar aqui do que aconteceu...
_ e o que aconteceu?
_ não sei... namora um colega...
_ disseste que tinha um amante
_ sim, fiquei muito confuso... faz dias que está estranha... por isso fui lhe buscar no escritório...
_ foste buscar uma pista de algo...
_ não, não, eu não sabia o que buscava, porém estava estranha... quando eu tive uma amante ela não se deu conta, porém eu me dei conta em seguida do amante dela...
_ ...
_ ...
_ sim, te escuto
_ quando eu saía com Andréa, as coisas iam melhor com Sílvia...por isso, quem sabe, não se deu conta. Eu me encontrava com Andréa no horário do almoço e nas quintas à noite no Clube. Me deixou louco essa mulher...
_ as mulheres sempre te deixam louco, as colegas que contaram de Sílvia no bar, Sílvia que estava como se nada, Andréa...
_ ... sim, é um pouco assim... tu dizes que não sei me comportar com as mulheres? Que não sei estar com elas??
_ não sei, não disse nada, tu disseste que te deixam louco.
_ Agora a que me deixa louco és tu, com isso que me dizes... é grave o que aconteceu...
_ e o que aconteceu?
_ Isso que te digo, ouvi que está de namoro com um colega... pensará que sou bobo??' que não ia me dar conta??'.... mas agora não sei o que fazer, porque se eu lhe digo o que ouvi e ela nega???? ou pior.... se lhe digo e ela diz que sim, que está apaixonada por outro??? O que faço?
_ O que quer fazer?
_ Não sei, nada, me parece.... creio que não quero fazer nada, esse é o problema... sempre pensei que se soubesse de algo, lhe matava... me ia embora de casa, lhe batia... não sei, o que todo mundo diz... porém o que me ocorre é pior... não quero fazer nada, prefiro que ela tenha um namoro e deixe de ter um namoro quando lhe convenha... eu a quero... não quero fazer nada. Isso é o que quero...
_ está melhor em haver tomado essa decisão??
_ sim
_ Continuamos na próxima.
(texto escrito em Espanhol e traduzido para o Português por Eliane Marques)

Um comentário:

Lúcia Bins Ely disse...

Gostei muito de ler essa sessão 3,
me tocou especialmente neste momento pelo radical da palavra que quando pronunciada vira ato e assim o ato "violento" fica dispensável.

Muito graciosa a homenagem a nossa querida Marce, à qual me incluo, muchas gracias, Marce, por tus palabras!