quarta-feira, 11 de março de 2009

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Por que tão longe dos deuses? Talvez por perguntá-lo. E daí? O homem é o animal que pergunta. No dia em que soubermos verdadeiramente perguntar, haverá diálogo. Por enquanto, as perguntas afastam-nos vertiginosamente das respostas. Que epifania poderemos esperar se estamos nos afogando na mais falsa das liberdades, a dialética judaica-cristã? Faz-nos falta um Novum Organum de verdade, é preciso abrir de par em par as janelas e lançar tudo para a rua, mas sobretudo também é preciso lançar a janela, e nós com ela. É a morte, ou sair voando. É preciso fazê-lo; é preciso fazê-lo de qualquer modo. É preciso ter coragem para entrar no meio das festas e colocar na cabeça da esfuziante dona da casa um belo sapo verde, presente da noite, e assistir sem horror à vingança dos lacaios.

(do "O Jogo de Amarelinha", de Julio Cortazar, Círculo do Livro S.A. - 31)

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