quarta-feira, 11 de março de 2009

psicoanálise em recortes


O AMOR AMADURECE NO DIVÃ



PARTE 1

texto da psicoanalista e poeta Barbara Corsetti, apresentado na Feira do Livro de Porto Alegre, em 15 de novembro de 2008.

E quando perguntaram para Freud o que era ser um homem normal, ele respondeu – AQUELE QUE SABE TRABALHAR E AMAR!
Essa é a razão de estarmos aqui hoje, porque esse homem confiou na força do seu trabalho e construiu um amor. E assim podemos hoje trabalhar e falar sobre o inconsciente. Esse é o trabalho da psicoanálise e para essa missão o fundamental é o amor.
Quando se decide cair no divã, se decide também abrir uma janela para um novo mundo, e outro discurso vai entrar por essa janela e nele vai chegar também a transferência.
Essa transferência de que fala a psicoanálise diz do processo inconsciente e de como ele funciona para se mostrar em atos, diz também de como funciona para construir o próprio sujeito. A transferência está em todos os lugares, no trabalho, na padaria, no shopping, e em todos os ambientes que o sujeito estiver, mas apenas em um lugar se fala dela e com ela, e esse lugar é em análise.
A transferência é que permite a escuta analítica.
Quando o paciente começa falar as associações correm através da fala e essa é a matéria prima com a qual a psicoanálise trabalha.
Deitar no divã pode parecer uma situação esquisita, e digo do esquisito espanhol que o dicionário traduz como “diferente”, e que de fato é muito diferente, pois deitar em um divã, numa sala que pouco se conhece e começar a falar associativamente pode ser a cena mais sinistra já pensada.
Mas o associar livremente que a psicoanálise propõe permite que os fantasmas apareçam e que todas as curvas do inconsciente se desvendem.
O falar associando livremente parece difícil de se desenrolar no princípio da análise e a única impressão que se tem é de que é preciso trazer algo pronto pra falar em sessão, um assunto já armado, um tema para ser trabalhado no dia em que a sessão está marcada.
Mas a surpresa se dá quando o assunto se transforma e toma outra tonalidade, diferente do início da fala, diferente daquela idéia que se imaginou, e aquilo que parece ser tão fácil fazer quando se está só em um quarto ou banheiro, ali no divã, com outra pessoa, sentada atrás ou ao lado, parece ser o mais complicado possível.
Mas nesse sujeito sentado logo atrás, disposto a escutar, a espera que as palavras comecem a viajar pelo ar, reside um espaço aberto para escuta, e basta um suspiro de angústia pra que ele interprete que algo há.

Um comentário:

Magali disse...

Que ótimo seu texto Bárbara...