ADRIANO
II Parte (I parte publicada em 19 de julho)
Campainha
- Cheguei no horário hoje. Tinha muita vontade de vir... fiquei pensando em algo do que me interpretaste na sessão passada. O de me sentir órfão, o das perdas... o …
- Pode te deitar no divã, esta sessão é outra.
- Estou um pouco ansioso. Vou respirar fundo um pouco para ver se relaxo e digo tudo o que pensei entre ontem e hoje.
II Parte (I parte publicada em 19 de julho)
Campainha
- Cheguei no horário hoje. Tinha muita vontade de vir... fiquei pensando em algo do que me interpretaste na sessão passada. O de me sentir órfão, o das perdas... o …
- Pode te deitar no divã, esta sessão é outra.
- Estou um pouco ansioso. Vou respirar fundo um pouco para ver se relaxo e digo tudo o que pensei entre ontem e hoje.
- Que ambição desmedida. Pode falar o que vá podendo falar, porém tudo o que pensou não vai poder falar.
- É verdade, me senti insignificante quando Luísa me disse que não me amava mais. Me foi insuportável que ela pronunciasse essa frase assim, com essa naturalidade, como dizendo “Chove em Moscou”
- Chove em Moscou... soa natural?
- Nunca estive em Moscou... não sei por que o disse.
- E com o que o associa?
- Não vinha para falar disso, queria contar o que pensei ontem, porém agora já não posso falar de outra coisa que disso que me fez dizer: Chove em Moscou.
- Sim, o escuto.
- Chamam Luísa de a “russa”, mas não por ser russa, senão por ser judia.
- A russa te disse que não o amava mais, como se lhe fosse natural ver chover em Moscou e contar.
- Agora me lembro que faz alguns meses, quis dizer a ela que estava incômodo com sua presença permanente em minha casa, porém não o disse. Um dia que não a aguentava mais por que não me deixava ver uma partida de futebol e lhe disse: por que não vai a esquina ver se está chovendo.
- Quando lhe queria dizer era que o deixasse um pouco sozinho. E lhe mandou ver se chovia. - Sim, me custa dizer o que penso, sempre dou voltas estranhas e termino mostrando meu mal-estar, mas sem me animar a dizer.
- E ela te disse: Não te amo mais... da mesma maneira que você lhe tivesse dito: Chove em Moscou. Que tristeza, não há mais sol para nós.
- Tenho vontade de chorar e lhe dizer que ainda que seja minha analista às vezes a amo e às vezes não a amo.
- Bem, Adriano, algo posso dizer. Às vezes também chove entre você e eu, até a próxima.
Marcela Villavella
Marcela Villavella
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