domingo, 19 de julho de 2009

sessão desvelada

ADRIANO

Campainha
Adriano, sempre pontual. Perfumado. Parece contente, mas não.
- Estou muito amargurado… Não sei nem como dizer… Luísa me disse que não me ama… NÃO ME AMA… assim ouvi, como um grito que me chegava até o nervo mais insignificante do corpo.
- Você se sentiu insignificante diante dela?
- Sim, pode ser. Sem mais sentido para ela. Um homem vazio… eu não queria a amar por que não queria sofrer se ela me deixasse, teria preferido deixar de amá-la eu.
- Mas se você a deixasse de amar, também iria sofrer. Deixar de sentir amor é muito triste.
- Ontem cheguei a meu escritório e a secretária me perguntou: Lhe ocorre algo que está tão triste? Eu não queria dizer a ela que sim, que estou com a alma em pedaços como diz o tango. Me sinto enganado por ela.
- Enganado por quê? Não cree que não a ama mais? Cree que é mentira que o amor morreu?
- Não sei falar sobre isso, me confunde um pouco. Na verdade eu me sinto enganado por que ela me disse que me amava e agora não me ama mais, e me parece que ama outro, me sinto enganado.
- Não lhe deu o seguro de amor contra terceiros que você tanto lhe havia pedido.
- Claro, não me deu nenhuma garantia. E agora diretamente me diz que não me ama. Ontem me chamou por telefone para me dizer que queria devolver um disco que deixei em sua casa. E me perguntou como estava... e eu não queria dizer que estava destroçado, e que agora me sinto sozinho, triste, amargurado, órfão.
- Órfão?
- …
- …
- Disse isso?
- Sim. Talvez recém agora, com este abandono, reconheça que perdeu sua mãe. Há, todavia, um órfão que chora em você cada vez que se perde um amor.
- Posso voltar amanhã?
- Às 9? Te espero.
- Sim, obrigada. Até amanhã.

Marcela Villavella


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