domingo, 12 de julho de 2009

sessão desvelada

IRENE

Campainha

- Quem é você?
- Sou sua vizinha do 11°B.
- Boa tarde, o que quer?
- Queria que me atendesse por que hoje tive uma crise nervosa e queria falar com alguém...
- Estou esperando um paciente, se quiser, pode vir daqui a uma hora e vemos um horário para ti na agenda.
- Não Doutora, não entendeu. Eu preciso que me atenda agora mesmo, por que tive uma crise nervosa
- Como é seu nome?
- Irene
- Bem, Irene, isto é um consultório, está certo que tenha tocado a campainha, mas ... não posso te atender agora mesmo por que estou esperando um paciente.
- Mas, se está falando comigo... quando vier o paciente que espere o paciente, eu tive uma crise nervosa, preciso de atenção urgente. Tens que me atender agora.
- Irene, não é possível.
- Sim, é possível, estamos aqui na entrada de seu consultório, você é uma psicoanalista e eu uma paciente, tens que me escutar, vim à procura de você para lhe dizer o que me passa.
- Bem, o que é que queres me dizer?
- Hoje pensei em matar meu marido. Ela tomava o café da manhã sem me olhar, lendo o diário e, de repente, me olhou e me disse: te odeio. E eu lhe disse: Como João Carlos??? Não entendi bem... Te odeio, me respondeu tranquilamente enquanto comia uma torradinha com marmelada de pêssego feita por mim, então olhei o tamanho da faca que estava sobre a mesa imaginando como eu a ia cravar no meio do seu coração.
- Parece que você odeia ele, quem sabe, muito mais que ele a você. Pelo menos ele o disse, você o quis matar sem lhe dizer uma palavra... Mas, a crise nervosa, qual foi?
- Eu disse que o amava enquanto olhava a faca e quanto mais imaginava como ia matar a esse porco paralítico, mais lhe dizia que o amava e mais nervosa ia ficando.
- O ódio é muito ruim.
- Num momento gritei a ele que o amava como nunca amei ninguém e me lancei sobre ele e lhe golpeei o peito no mesmo lugar onde queria cravar a faca.
- Te intimidou??? Fracassou?
- Como? Como lhe ocorre isso Doutora??? Eu nunca mataria meu marido!!! Isso me ocorreu pelos nervos. Ele também me ama, mas, às vezes, se cansa da rotina de todos os dias...
- CAMPAINHA
- Desculpe-me Irene, estão tocando a campainha, chegou o paciente, te dou um horário para mais tarde?
- Não, muito obrigada, você não me compreende. Melhor procurar outra psicoanalista que não se ponha às crises de casal, certamente você é separada!!! São todas iguais... melhor procurar um psiquiatra que entende melhor o que é uma crise nervosa. Não sei nem para que vim!!!! Por Deus!!!!
- Me parece uma boa decisão, adeus Irene, cumprimentos a seu marido

Marcela Villavella



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