sexta-feira, 26 de junho de 2009

traduceiro




Amo as horas sombrias de meu ser,
nas quais se me aprofundam os sentidos:
nelas eu tenho achado, como em velhas cartas,
meu dia-a-dia já vivido, e feito
alguma lenda distante e sofrida.
Delas me vem a noção de que tenho
lugar numa outra vida mais ampla e finita.

E eu às vezes me sinto feito a árvore
que, sobre um túmulo, madura e ciciante,
preenche o sonho de algum morto jovem
(a cuja volta ela aperta as raízes mornas)
perdido entre amarguras e cantigas.

(Rainer Maria Rilke, de O livro das horas, tradução de Geir Campos, Civilização Brasileira)

Um comentário:

Mara faturi disse...

Rilke sombrio, Rilke profundo...tocando nas entranhas da terra( e das coisas)...
bjos