I
Tempo oco barato
onde violões moles
se enredam nas pernas
e mulheres sem rosto
sem seios sem pestanas
com o ventre de pedra
choram nos caminhos.
Ah giro dos ventos
sem pássaros sem folhas
os cães de barriga para cima
farejam em vão
um material nu
de fragrância e alegria
um ar sem perdizes
sem tempo sem amigos
uma vida sem pátria
um silêncio de chicote
que nem sequer açoita.
II
O rio desce pelas costas
com sua alternada indiferença
e a cidade o considera
como uma cadela preguiçosa.
Nem amor, nem espera, nem o combate
do nadador contra o nada.
Com languidez de cortesã
Buenos Aires olha o seu rio.
O tempo é este cinza, compadre
pitando ali sem fazer nada.
(Divertimento, Julio Cortazar, Civilização Brasileira, RJ, 2003)
Tempo oco barato
onde violões moles
se enredam nas pernas
e mulheres sem rosto
sem seios sem pestanas
com o ventre de pedra
choram nos caminhos.
Ah giro dos ventos
sem pássaros sem folhas
os cães de barriga para cima
farejam em vão
um material nu
de fragrância e alegria
um ar sem perdizes
sem tempo sem amigos
uma vida sem pátria
um silêncio de chicote
que nem sequer açoita.
II
O rio desce pelas costas
com sua alternada indiferença
e a cidade o considera
como uma cadela preguiçosa.
Nem amor, nem espera, nem o combate
do nadador contra o nada.
Com languidez de cortesã
Buenos Aires olha o seu rio.
O tempo é este cinza, compadre
pitando ali sem fazer nada.
(Divertimento, Julio Cortazar, Civilização Brasileira, RJ, 2003)
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