JAVA
C’ est la java d’ccelui qui s’en va –
Ficaremos sós e já será de noite.
Ficaremos sós meu travesseiro e meu silêncio
e a janela vai estar olhando inutilmente
os barcos e as pontes que preparam suas agulhas.
Eu direi: Tarde demais.
Não me responderão nem minhas luvas nem o pente,
somente teu cheiro, teu perfume esquecido
como uma carta na mesa virada para baixo.
Vou morder uma maçã e fumar um cigarro
vendo descer os cornos da noite medusa
seu vasto caracol forrado de veludo
E direi: Já é noite
e vamos concordar oh móveis oh cinza
com o realejo que remonta na esquina
os tristes ossinhos de um peixe e uma amapola.
C’ est la java
d’celui qui s’en va –
(do livro Divertimento, Julio Cortázar, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2003, p. 137)
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