sexta-feira, 19 de junho de 2009

era uma vez...

1ª noite
das espantosas histórias das mil e uma noites
(continuação da 1ªparte, publicada em 15 de maio de 2009)


“ O tempo é composto de duas partes, uma pura, outra turva.
Pergunte a quem urdiu as idas e vindas do tempo:
será que o tempo só maltrata a quem tem importância?
Acaso não se vê que a ventania, ao formar as tempestades,
não atinge senão as árvores de altas copas?
De tantas plantas verdes e secas existentes sobre a terra,
somente se apedrejam aquelas que têm frutas;
nos céus existem incontáveis estrelas,
mas em eclipse só entram o sol e a lua.
Pois é, você pensa bem dos dias quando tudo vai bem,
e não temes as reviravoltas que o destino reserva;
nas noites você passa bem, e com elas se ilude,
mas no sossego da noite é que sucede a torpeza.”

Quando o mercador encerrou o choro e os versos, o gênio disse: “Por Deus que é imperioso matá-lo, mesmo que chore sangue, assim como você matou meu filho”. O mercador perguntou: “É absolutamente imperioso para você?”. Respondeu o gênio: “Para mim é imperioso”. E tornou a erguer a espada para golpeá-lo.
Então a aurora alcançou Sahrazad e ela parou de falar. A mente do rei Sahriyar ficou ocupada com o restante da história e, nessa primeira manhã, Dinarzad disse à irmã:” Como são belas e espantosas as suas histórias!” Respondeu Sahrazad: “Isso não é nada perto do que vou contar na próxima noite, caso eu viva e caso este rei me poupe. A continuação da história é melhor e mais espantosa do que o relato de hoje”. E o rei pensou: “Por Deus que eu não a matarei até escutar o restante da história. Mas na próxima noite eu a matarei”. Depois, quando bem amanheceu , o dia clareando e o sol raiando, o rei se levantou e foi cuidar do seu reino e de suas deliberações. O vizir, pai de Sahrazad, ficou admirado e contente com aquilo. E o rei Sahriyar ficou distribuindo ordens e julgando os casos apresentados até o cair da noite, quando entrou em casa e se dirigiu para a cama acompanhado por Sahrazad. Dinarzad disse à irmã: “Por Deus, maninha, se acaso você não estiver dormindo, conte-me uma de suas belas historinhas para que possamos atravessar acordados esta noite”. E o rei disse: “Que seja a conclusão da história do gênio e do mercador, pois meu coração está ocupado com ela”. Ela disse: “Com muito gosto, honra e orgulho, ó rei venturoso”.

(Livro das Mil e uma noites, volume I – ramo sírio, tradução do árabe por Mustafa Jarouche, Editora Globo, 1ª edição, pp58 e 59)

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