quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FESTIVAL POESIA SEM FIM em Porto Alegre

POETAS DO FUTURO
 
“A FIGUEIRA ERA O LUGAR DA SOMBRA.
FAZÍAMOS A VIDA, DIZENDO-NOS QUE ÉRAMOS FELIZES
METADE DO TEMPO SENTADOS À SOMBRA DA FIGUEIRA.”
(de Miguel Oscar Menassa)

Num sábado de sol, em torno a uma enorme e centenária figueira, no dia 18 de dezembro de 2010, como parte do FESTIVAL POESIA SEM FIM, o GRUPO CERO BRASIL e o INSTITUTO RECRIAR-CASA AMARELA, que desenvolvem o projeto POETAS DO FUTURO, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil), fizeram uma roda de poesia em homenagem ao poeta MIGUEL OSCAR MENASSA.
O “Poetas do Futuro” reúne crianças e adolescentes em torno da leitura e da escritura de poesia. Todos os seus integrantes vivem num lugar chamado Casa Amarela, que os abriga e lhes oferece melhores condições de vida, “para que en el mundo un niño se haga hombre”.
A roda começou como naquele poema do Lorca: às cinco horas da tarde.
O primeiro poema lido foi do livro YO PECADOR, do POETA homenageado.

EU PECADOR III
Amava as andorinhas.
porque aprendi delas a  voltar no verão.
No verão amava nas areias
a marca de teus pés.

Odiar
odiava somente o odor dos mortos.

Uma tarde mataram meu primo pelas costas
“Mão de ferro” o chamavam
Miguel, Miguel, meu bem amado e doce camarada.

Montavas a cavalo como o “Vaqueiro Solitário”
único e elegante
nas terríveis guerras do verão
me falavas de teu corpo
de teu corpo desnudo entre os cães
os cães lhe ladram à roupa, me dizias.

Desnudo um é mais um cão.
Deixar a casa do avô.
Esquecer do pátio e da figueira
não recordar jamais o gosto da menta
foi um golpe baixo da vida.

E vieram depois silenciosas mulheres
a violentar em minha lembrança o seu nome.
Veio depois tua morte traiçoeira.
Me contaram de tua cara extraviada de surpresa
porque esperar
- menos a morte –
havíamos esperado juntos qualquer coisa.
Logo entraram na roda alguns textos dos “Poetas do Futuro” (crianças e adolescentes entre 12 e 20 anos):
SEGREDO MORTO
Qual será nosso maior segredo?
Será aquele de que tenho medo?
Ou aquele do qual me arrependo?
Ele é um segredo íntimo,
Que não divido nem com meus primos.
Talvez esse segredo seja um mito
Do qual eu quero falar aos gritos
Escondo-o em meu corpo
Tento não manifestar no meu rosto
Mas ele ficará comigo até o meu último sopro
E assim será um segredo morto.
de Rafael Passos

SOMBRAS NA RUA
 Uma figueira no meio da rua
abaixo de uma lua,
uma rua e uma lua
e a figueira entre elas.
Na rua iluminada
os olhos de uma pessoa
refletem a lua
e os seus pés  pisam a rua.
E a figueira?
Continua ali, iluminada pela lua
a fazer sombra na pessoa
que pisa a rua.
de  Vinicius Guterres

CÃO FEROZ
Em uma casa diferente,
ao olhar para a frente, a Donna da casa  sai
de sua residência, e nota que há uma coisa errada
com seu mascote de estimação,
seu cão feroz e assustador acaba de matar um bebê:
o de sua vizinha favorita, a madame Madricur.
de Thiago da Silva     

A MÃO FECHADA DO OVO
A mão que faz a terra
quebra o ovo
o ovo é roubado
o cara que o rouba
frita um ovo
E COME!
“comida é água”.
de César Augusto Martins

BICICLETA ABANDONADA
Um dia eu vi uma bicicleta, sozinha, quase abandonada.
Mas ela estava para mim. Eu a peguei e saí com ela.
Só que não demorou muito e o
dono me encontrou e disse:
me dá aqui, se não eu vou queimar você em dois.
Tá bom, você venceu. Pegue e fique com deus.

de Fabiano Daniel Pereira

BOXEI A LUA
Era um guri que sonhava
viajar para a lua.
Então viajou para vários países
e vários estados e o mundo todo,
por que queria encontrar um FOGUETE.
Era um guri que só apanhava
Mas um dia ele disse:
Vou descarregar minha raiva
num ET, de repente ele é
mais fraco do que eu.
Então o guri lembrou que nos EUA
têm um FOGUETE e lá é um país rico.
Vamos lá!
Lua, aí vamos nós!
O ET vai apanhar tanto!!!!!
Mas quando o guri chegou lá não
havia ET nenhum.
E ele teve que boxear a lua.
de Israel Cunha  

JOSÉ
José onde você está?
- A festa acabou.

E agora onde você está?
- Estou na rua. Vou embora dormir
numa noite bela e escura.
Mas você dorme José?
 - Passo a noite olhando as estrelas
 e a lua, mas não há estrelas e lua.
E agora o que irá fazer?
 - Embora queira não posso
brincar com os cães, não há nenhum cão.
O que fará José?
 - Cem lua e cem cães.
de NÍcolas Gabriel Martins

SOMBRA
Onde eu vou, ela vai atrás.
Eu vou sair, ela vai atrás.
Eu vou ao hospital, ela está lá.
Eu vou para escola, ela está lá.
Qual é o nome dela?
Eu não sei dizer o nome dela.
Ainda não deu tempo para ela largar do meu pé.

DOM a SOMBRA.
de Douglas Moreira

PALAVRAS
Escrevo uma palavra
BIGODE
Depois dela escrevo a palavra
 LOIRO
e já tenho um BIGODE LOIRO
de Fabiano Escouto (Niño)
CORAÇÃO
Dizem que o coração
é vermelho,
mas o meu é de ouro.
Os dois são lindos e grandes
e rachados e lançados
por morte
de uma melodia.
Salvados de dentro e
desabados
e pesados.
O seu coração salvo
buscou outro
coração de ouro.

de Maicon de Paula

A RODA terminou com música popular brasileira.  Caoan da Costa Goulart e Matias Behrends Pinto (violão e cavaquinho) deram cordas à poesia.

O projeto Poetas do Futuro, por sua coordenação (Grupo Cero Brasil, poeta Eliane Marques), bem como o Instituto Recriar – Casa Amarela (por sua Presidência e coordenação, Gilmar Dal’Osto Rossa e Maria Cristina Gonçalves da Costa), agradecem ao FESTIVAL POESIA SEM FIM, por que a única maneira de viver é viver acompanhado.

Foto: Iria Boufleur

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