segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

UMA NEUROSE DEMONÍACA NO SÉCULO XVII






Orações de um senhor arrependido

No dia 05 de setembro de 1677, o pintor bávaro Cristóbal Haitzmann foi levado à Mariazzel, com uma carta de apresentação do pároco de Pottenbrunn.

O pintor se dedicara à arte, durante vários meses de sua residência em Pottenbrun, quando, no dia 29 de agosto anterior àquela data, encontrando-se na igreja, viu-se acometido de terríveis convulsões.

Ao se repetirem tais ataques o padre, examinando-o, encontrou a seguinte carta:

1. Quando o diabo me rondava
anunciando seus rigores

Senhor, enferruja meus garfos e medalhas, estraga
[estes molares,
enlouquece meu barbeiro, os servos
sejam mortos em suas camas de madeira, mas
[livra-me do Diabo.
Com seu cheiro de cachaça e os cabelos enlameados
se aproxima de minha casa, já o surpreendi
caído entre os vasos de gerânios, enrugado e nu.
Estou um pouco gordo, Senhor, espero teus
[rigores, mas não tantos.
Envelheci nas batalhas, os ídolos morreram.
Agora espanta o Diabo, lava estes gerânios e meu
[coração.
Faça-se a paz, amém.


(Fragmento adaptado do texto de Sigmund Freud “Uma neurose demoníaca no Século XVII” (1922[1923]), com inclusão do poema de Antonio Cisneros, “Orações de um Senhor Arrependido” do livro Sete Pragas Depois, p. 19 e tela de Caravaggio)

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