segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

MONÓLOGO ENTRE A VACA E O MORIBUNDO



Querida Vaca:

22 de dezembro de 2008


Descumprindo as regras de etiqueta, te escrevo antes de receber tua carta.
Sei que tenho de mudar quase todos os fundamentos da minha vida atual, porque minha vida atual é atual, e seus fundamentos, antigos, ou pelo menos, não atuais.
Chefe de um discurso quer dizer, de maneira fundamental e atual, chefe.
E não quer dizer homem sensibilizado pela radiação atômica, meio amariconado, de tanto impotente solto, de tanta mulher desesperada.
Um chefe tem direção, conceitos, opiniões, ainda que lhe caiba ser chefe de um Discurso Poético. Aí temos Breton, quando Artaud lhe perguntou se estava louco e Breton disse claramente: “Estás louco”. E à pergunta de Artaud de porque lhe dizia isso, Breton respondeu simplesmente como um chefe. “Porque estás louco”. E quando Aragon lhe perguntou: “Eu também estou louco?” Breton lhe disse tranqüilamente como um chefe. “Não, tu não estás louco, tu tens idéias políticas diferentes das minhas.”
(fragmento do texto XXXVII, do livro "Monólogo entre a Vaca e o Moribundo", p.107, de Miguel Oscar Menassa)

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