terça-feira, 30 de dezembro de 2008

CARTA DE FREUD A EINSTEIN (1ª parte)


O PORQUÊ DA GUERRA

1932 [1933]

Viena, setembro de 1932

Estimado Senhor Einstein:

Quando me inteirei de que você se propunha a me convidar a trocar idéias sobre um tema que ocupava seu interesse e que também lhe parecia ser digno do alheio, manifestei com prazer minha aprovação. Sem dúvida, esperava que você elegesse um problema próximo aos limites de nosso atual conhecimento, um problema diante do qual cada um de nós, o físico como o psicólogo, pudesse costurar um acesso especial, de modo que, acudindo de distintas procedências, se encontrassem num mesmo terreno. Em tal expectativa, me surpreendeu sua pergunta:

QUE PODERIA SE FAZER PARA EVITAR AOS HOMENS O DESTINO DA GUERRA?

Em princípio fiquei assustado sobre a impressão de minha – quase houvera dito: " de nossa" - incompetência, pois aquela me parecia uma tarefa prática que corresponde aos homens de Estado. Porém logo compreendi que você formulava a pergunta menos como investigador da Natureza ou físico e mais como amigo da Humanidade, respondendo ao convite da Liga das Nações, à maneira de Fridtjof Nansen, o explorador do Ártico que tomou a seu encargo a assistência das massas famintas e das vítimas refugiadas da Guerra Mundial. Ademais, refleti que não se me pedia a formulação de propostas práticas, se não que apenas havia de rascunhar como se apresenta a consideração psicológica do problema de prevenir as guerras.

Mas você em sua carta expressou já quase tudo o que poderia dizer a respeito. De certa maneira, você me tirou o vento das velas, porém de bom grado navegarei em sua estrela e me limitarei a confirmar o que você enuncia, tratando de explaná-lo segundo minha melhor ciência ou presunção.

Você começa com a relação entre Direito e Poder: Está aqui, por certo, o ponto de partida mais adequado para nossa investigação. Posso substituir a palavra "poder" pelo termo, mais rotundo e mais duro, "força"? Direito e força são hoje para nós termos antagônicos, porém não é difícil demonstrar que o primeiro surgiu do segundo, e retrocedendo até as origens arcaicas da Humanidade para observar como se produziu este fenômeno, a solução do enigma se nos apresenta sem esforço.
(continua amanhã)

(Sigmund Freud, Obras Completas, 3, Biblioteca Nueva, Editorial El Ateneo, p. 3207 e 3208; tela, Expulsão de Adão e Eva do Paraíso, de Tommaso Masaccio)

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