segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

MONÓLOGO ENTRE A VACA E O MORIBUNDO (terceira parte)


E isso é por fim uma aposta, já que neste século que agoniza ninguém, nem os estados mais poderosos puderam mudar a realidade.
O homem era uma merda o século passado, e segue sendo uma merda.
Modificar meu eu, isso dizíamos nas linhas anteriores, e o único que me ocorre é ganhar mais dinheiro, para ter mais dinheiro para poder repartir por mais pessoas que eu, deus e minha mamãe.
Quero modificar o meu eu mesmo e não o encontro em nenhuma parte, porém deixo escapar as palavras como se fossem bolhas de sabão que uma vez produzidas, todavia, precisam do vento para voar, e me detenho nessa sabedoria extraordinária do século morrente e me digo em voz alta:
- Um menino hoje é uma boca que devemos alimentar porque amanhã essa boca será dois braços que darão de comer a dez bocas.
Fui pela vida montado nessa frase que li aos 14 anos, por casualidade e sem intervenção aparente de cúmplice algum, e atribui não sei por que motivos a Mao, porém essa frase não levava em conta a inveja.
Me vi dando de comer a uma boca que para seguir sendo boca ia cortando os seus braços à medida que cresciam, para não dar de comer a ninguém, para sentir-se frente a mim a única criança do mundo.(fragmento do texto XXXVII, do livro "Monólogo entre a Vaca e o Moribundo", p. 108, de Miguel Oscar Menassa, tela de Frida Khalo)

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