sábado, 5 de dezembro de 2009

Do livro: A Mulher e Eu de Miguel Oscar Menassa


























Miguel Oscar Menassa, Los Brillos de la Noche
(Óleo sobre tela, 2008)



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Me prometeste que compraríamos uma casa
e me trouxeste para viver na casa de tua mãe.
Sou proibida de entrar na cozinha
e, quando estou sozinha ou contigo,
supostamente, em nosso dormitorio,
me sinto fortemente vigiada.
Depois, também estão tuas irmãzinhas
que me olham como se eu fosse a intrusa.
Eu só te vejo domingo à tarde,
se seguimos assim terminaremos separados
tu violando ou amando a tua mamãe
e eu trabalhando de puta enamorada
no corredor da morte em Boston.
Ele movia a cabeça afirmativamente
mas nunca me escutava, nunca me via.
Eu deixo passar 2 ou 3 dias e, como ele
não me diz nada, nenhum gesto ou palavra,
lhe conto contente o que penso fazer.
Ele não entende nada mas segue o trem,
ao que eu disse, ele, sem escutar disse que sim
eu queria lhe dizer que ia embora com seu amigo Pepe,
à selva obscura do pássaro gris e à nostalgia.
Que não se preocupoe, queria lhe dizer,
que o dinheiro que falta na conta
o utilizei eu, comprando malas,
comprando essas flechas com aquele veneno
que ao apenas te tocar geram amor
e um pouco de felicidade engarrafada no vazio
pelas dúvidas estranhei seu silencio.
Depois, também comprei para Pepe
um par de calçõezinhos e uma camisa vermelha
e, se sobra algo ainda, quando volte,
porei na conta em teu nome.

O camarada Cornelio, que assim o chamavam,
não escutou e não viu nada até a segunda de manhã
quando o gerente do banco o chamou,
desesperado, para lhe dizer, tremendo:
Don José, Santo Deus, seu dinheiro sumiu!!

Não se preocupe, senhor gerente,
devem ter sido a puta de minha mulher
e o canalha de meu amigo Pepe.
Podendo fazer amor abaixo de minhas narinas
vão até a África Negra para que ninguém os veja.

Gastam muito dinheiro tratando de se esconder
quando aqui em Madrid, em nossa propria casa
convivem com putas e nobres, chulos e presidenciáveis.
Não entendo isso, senhor gerente,
não posso entender isso, assim
que, quando voltem da selva,
jantarei com eles e lhes direi:
A partir de hoje, querida minha
e doce amigo da alma,
com vocês dois não farei mais negócios
assim que, a partir de hoje, entre nós
somente poderemos o amor, as ilusões.

de Miguel Oscar Menassa
do Livro: La Mujer y Yo (Editorial Grupo Cero, 2003)

(Miguel Oscar Menassa é o diretor internacional do Grupo Cero,
está indicado ao Nobel de Literatura 2010)

2 comentários:

ju rigoni disse...

Belo blogue! Grandes poemas e poetas!

É lindo também o poema que deixaste em minha caixa de comentários.

Obrigada pela visita, por tanta poesia, e por seguir-me.

Bjs e inté!

Grupo Cero VersoB disse...

Cara Ju,

agradecemos a ti pela visita e o carinho pela poesia...

agradecemos à poesia que nos faz possível esses encontros...

um abraço,