domingo, 9 de maio de 2010
LENDO OS GRANDES POETAS
MARTIN FIERRO
CANTO I
1.
Aqui me ponho a cantar
ao compasso da viola,
que o ser a quem desconsola
uma dor extraordinária,
como a ave solitária,
cantando é que se consola.
2.
Imploro aos santos do céu
que amparem meu pensamento;
peço que, neste momento
em que canto minha história,
me refresquem a memória
e aclarem o entendimento.
3.
Venham, santos milagrosos
cada um que me ajude:
minha lingua se desgrude
e nada me turve a vista;
peço ao Senhor que me assista
em ocasião tão rude.
4.
Conheço muitos cantores
de famas bem construídas
e que, uma vez adquiridas,
não as podem sustentar:
como se antes de largar
já cansassem das partidas.
5.
Onde outro paisano passa,
Martin Fierro há de passar:
nada o fará recuar,
nem os fantasmas o espantam.
E, uma vez que todos cantam,
também eu quero cantar.
6.
Cantando quero morrer,
cantando me hão de enterrar,
e cantando hei de chegar
à porta do Padre Eterno;
pois desde o ventre materno
vim ao mundo pra cantar.
7.
Não se prenda minha lingua
e nem me falte a palavra:
minha glória o canto lavra
e, se me ponho a cantar,
cantando me hão de encontrar
ainda que o chão se abra.
José Hernández (Província de Buenos Aires, 10 de novembro de 1834)
do Livro: Martín Fierro
(tradução de: Leopoldo Jobim)
(continuará)
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