quarta-feira, 12 de agosto de 2009

poesia cero

A GOVERNANTA


na casa do sonho
há um poço imenso
no imenso poço
uma governanta
dentro da governanta
uma rainha morta

a rainha troca de rosto
toda vez que servem vinho
à governanta

há na casa (do poço)
quatro quartos
que se pintam e se apagam
conforme o rosto da rainha

mais vinho faz ver
a rainha com seu vestido de noiva
e um chapéu de feltro que costura
há 25 anos

nos porões da casa (do sonho)
se esconde um suicida
a rainha desmaia quando
ele bate às suas portas

ele é orvalho
balanço vago
de dois verdes cemitérios

um beija-flor (muito pequeno)
picoteia o rosto da rainha
que com os braços
sufoca a dor

do poço e
liberta os ossos
quando marinheiros
desfilam no rosto
ostras tombadas

sobre o rosto
a governanta faz senhas
de seu esqueleto

conta as caveiras
no jantar com a madrugada

se para cada estrela do mar
há um sepulcro na galiléia
que lua sofre
se a rainha faz empenho
no desenterro de seus mortos

governanta
esses rostos todos

empedra

Eliane Marques

Um comentário:

Mara faturi disse...

ELIANE QUERIDA,

Eu é que estou "empedrada" de encantamento...Que belo poema..belas imagens...perfume de flores secas...
um beijo!