segunda-feira, 12 de março de 2012

verso b

Desencanto



Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.



Manuel Bandeira (Recife - 19 de abril de 1886/ Rio de Janeiro-1968)
(do Livro: Meus poemas preferidos. Ediouro, Rio de Janeiro, 1998.)

Nenhum comentário: