quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Norma e Miguel Oscar Menassa: Recital de Poesia em Madrid

Nota de imprensa do Recital de Poesia dos Irmãos Menassa



Um camina às vezes pelas ruas da cidade e pensa na guerra, nos corpos mutilados, enquanto escuta o som ensurdecedor das buzinas e sente em suas mucosas a fumaça das fábricas e dos tubos de escape. E a palavra crise, como uma funda arrojada com sua pedra dá golpes em sua cabeça, uma e outra vez, até lhe fazer sangrar. Então, de repente, no centro do coração da cidade, se abrem umas portas e se transpassa o umbral que nos separa da poesia e se entra em outro mundo. Ali, digamos por exemplo numa quarta-feira dia 11 de Janeiro do recém estreado 2012 na Fundação Progresso e Cultura, duas vozes musicais se derramam na noite madrilenha, fazendo a luz nas trevas.

A primeira voz, com matizes irisados, forte voz masculina, de herculínea potência: Miguel Menassa, que é muitos poetas, é um poeta do povo, simples e veraz, como nos mostra em Espelho delirante, é um poeta social, leia-se a Lei do estrangeiro, é um poeta lírico, como demonstra desnudando a poesia em Arte Poética, é um jogral de um amor inexistente, porque como ele bem diz, há almas que até que não se as invente, não se as conhecerá, e Menassa inventou outra maneira de amar, como se faz patente em sua belíssima composição: À medida que me aproximo aos 70 anos. Um amor, que apesar de burlar a morte emudecendo-a com sua beleza, sabe que algum dia, morrerá. Um amor que renuncia à eternidade para desdobrar-se em toda sua humanidade.

A Guerra, O Amor e a Poesia passadas pela pluma, e não é que não haja mortos, nem cidade, nem sangue, nem crise neste mundo poético, é que já as palavras não ficam trancadas como um bolo indigerível na garganta, e o indizível se recobre de versos, e se faz o mundo transitável, a tristeza bela, a dor suportável, e a alegria, que tantos estragos produz, rende mais que o pânico, e está permitido se olhar amavelmente e sorrir ao companheiro, porque estamos em festa, e ao fim e ao cabo, a poesia, permite também o amor. Isso, o indizível, foi dito sem saber, e uma aflição que o cidadão caminhante sentia sobre o peito se vai aliviando, como se uma mão caliente tivesse se aplicado sobre esse peito dolorido.

A segunda voz, Norma Menassa, cujo timbre é o canto de uma mulher serena, sábia caminhante pelos caminhos do poema, também se joga a nos mostrar que a história dos povos, há que ir buscá-la nos poetas, leiam as Democracias tiram sarro de mim, e comprenderão o instante, como o poeta é o que deixa as senhas aos homens futuros de que houve outros seres como eles, que amaram, que se mataram uns aos outros tolamente, por un pedaço de
pão ou de petróleo, e que depois, retirando o fuzil ou abandonando a cama, assinaram com seu nome aqueles versos que falavam da guerra, do amor ou da poesia. É imperdível o poema: A poesia não estorva.

Eu me pregunto: a energia que têm os Menassa, esse Gozo que demonstravam lendo, esse sorriso derramado sobre cada poema, com a satisfação que dá brindar ao outro o trabalho realizado (não é outra coisa a leitura de poemas). Essa energia a psicanálise a produz ou a poesia a produz? Para mim não há dúvida. Os poetas de 70 anos que conheço fora do círculo Grupo Cero, não gozam de semelhante fortaleza, de um ímpeto que tendo chegado e transpassado as costas dos 70, não declina. A máquina que gera o desejo, é a psicanálise. A psicanálise que está presente em toda a obra destes irmãos poetas, que puderam pensar um amor diferente, um mundo aquém das guerras, uma poesia, donde um sujeito grupal e seu desejo são o coração do poema.
Grupo Cero

2 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

a poesia que alimenta a alma...

Tenha um ótimo fim de semana.

Grupo Cero VersoB disse...

Pra ti também, poeta Mauro,

Sim, a poesia é esse alimento que faz a alma estar crescida, alimentada, para o futuro,

um forte abraço,
na poesia,