sábado, 25 de junho de 2011

LENDO OS GRANDES POETAS

PANORAMA CEGO DE NOVA YORK
Se não são os pássaros
cobertos de cinza,
se não são os gemidos que golpeiam as janelas da boda,
serão as delicadas criaturas do ar
que manam o sangue novo pela escuridão inextinguível.
Mas não, não são os pássaros,
porque os pássaros estão prestes a ser bois;
podem ser rochas brancas com a ajuda da lua 
e são sempre rapazes feridos antes que os juízes revelem a teia.

Todos compreendem a dor que se relaciona com a morte,
mas a verdadeira dor não está presente no espírito.
Não está no ar nem em nossa vida,
nem nestes terraços cheios de fumaça.
A verdadeira dor que mantém despertas as coisas 
é uma pequena queimadura infinita
nos olhos inocentes do outros sistemas.

Um traje abandonado pesa tanto nos ombros
que muitas vezes o céu os agrupa em ásperas manadas.
E as que morrem de parto sabem na última hora
que todo rumor será pedra e toda pegada latido.
Nós ignoramos que o pensamento tem arrabaldes
onde o filósofo é devorado pelos chineses e larvas.
E alguns meninos idiotas encontraram pelas cozinhas
pequenas andorinhas com muletas
que sabiam pronunciar a palavra amor.
(continuará)
FEDERICO GARCIA LORCA (Granada, 1898 - Granada, 1936)
do Livro:  "Poeta em Nova Iorque"

Nenhum comentário: