Soneto Sonhado*
Meu tudo, minha amada e minha amiga,
Eis, compendiada toda num soneto,
A minha profissão de fé e afeto,
Que à confissão, posto aos teus pés, me obriga.
O que n'alma guardei de muita antiga
Experiência foi pena e ansiar inquieto.
Gosto pouco do amor ideal objeto
Só, e do amor só carnal não gosto miga.
O que há melhor no amor é a iluminância.
Mas, ai de nós! Não vem de nós. Viria
De onde? Dos céus?... Dos longos da distância?...
Não te prometo os estos, a alegria,
A assunção... Mas em toda circunstância
Ser-te-ei sincero como a luz do dia.
Manuel Bandeira (Recife - 19 de abril de 1886/ Rio de Janeiro-1968)
(do Livro: Meus poemas preferidos. Ediouro, Rio de Janeiro, 1998.)
*Como se depreende do título, foi este soneto composto pelo autor em estado de sono.
Ao despertar só se lembrava das palavras que vão aqui em grifo; das outras retinha apenas o sentido geral, de sorte que teve de completá-lo em estado de vigília.
sexta-feira, 8 de abril de 2011
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